História Vs. Hollywood, ou quando o cinema se apropria da história (Trabalho de Graduação)

segunda-feira, 29 de junho de 2015



 Nota: aqui estão postados apenas excertos do trabalho de graduação.


1 INTRODUÇÃO

O cinema detém um grande poder na construção da cultura, do conhecimento, da ideologia. Por isso, é um importante aliado da educação, quando bem usado nas salas de aula. O problema é quando, em nome de uma suposta “estética” do filme, os realizadores cinematográficos tomam liberdades artísticas e alteram a seu bel prazer o saber histórico. O presente trabalho, situado na área de concentração “Dinâmicas do Ensino de História” mediante pesquisa bibliográfica em livros, revistas pedagógicas, artigos de periódicos e web sites educacionais, visa estudar as situações onde o cinema se apropria da história real. Na primeira parte, discorrerei sobre a história do cinema, sua criação, principais escolas e movimentos, caracterizando sua importância dentro da história do século XX. Em seguida pretendo demonstrar seu valor no ensino de História, ou seja, a aplicação do mesmo em sala de aula. Na última parte do trabalho pretendo demonstrar, através da crítica a vários filmes, que é possível fazer um cinema histórico de qualidade, sem se apropriar da história inventado fatos ou subtraindo acontecimentos.

2 A HISTÓRIA DO CINEMA

A primeira exibição pública do que viria a ser o cinema, foi realizada em Paris, no dia 28 de dezembro de 1895, numa sala do Grand Café no Boulevard des Capucines 14, subsolo do local e durou cerca de 20 minutos. Podemos imaginar as luzes se apagando e as trinta e cinco pessoas presentes que pagaram um franco cada, surpresas assistindo a execução de um engenho chamado por seus inventores, os irmãos Lumière, de cinematógrafo, que reproduzia mecanicamente sobre uma tela branca imagens em movimento. E estas imagens, a chegada de um trem na estação e a saída dos operários da fábrica, apavorou e emocionou todos os presentes.

A primeira sessão de cinema trazia à realidade um dos grandes sonhos do homem, o de captar e poder reproduzir o mundo. E este sonho acompanhou toda a nossa história. Os tetos e paredes de cavernas de nossos antepassados, o teatro de sombras dos chineses, a “câmara obscura” renascentista e a lanterna mágica, pavimentaram o caminho que tornou o cinema uma realidade no final do século XIX. Então sete anos depois de sua primeira exibição pelos irmãos Lumière, com as trucagens do francês Georges Mèliés, o cinema virou arte, ou a "sétima arte".

Se na Europa, a primeira sessão pública, organizada pelos Lumière foi rápida e barata, nos Estados Unidos a milionária indústria cinematográfica foi fundada por produtores independentes. Em 1912, eles deixaram Nova Jersey para fugir da guerra judicial promovida por Thomas Edison, que detinha as patentes dos equipamentos de filmagem, e fundaram Hollywood. Com o passar das décadas, Hollywood se tornou símbolo do poderoso e fantástico cinema estadunidense, sediando premiações e abrigando homenagens públicas para os mais destacados artistas de cinema e musicais do mundo. A palavra "Hollywood" é frequentemente usada como uma metonímia do cinema americano.

Hoje milhões de pessoas enchem as salas de projeção cinematográfica em todo mundo. O cinema é um dos meios de comunicação que exercem maior influência na sociedade, seja nos costumes, linguagem, bem como em seu saber histórico, cultural e ideológico. Entender o mundo neste século será uma tarefa incompleta se não se estudar o cinema por ele produzido. Nos capítulos seguintes, estudaremos os principais movimentos e escolas cinematográficas.

2.1 VANGUARDA DOS ANOS 1920

2.1.1 Expressionismo Alemão

República de Weimar, início dos anos 20. Sombras, loucura e grotesco são os atores principais do cinema alemão. O movimento expressionista tenta representar o clima pós-guerra que toma conta do país e dura até a ascensão de Hitler, que proibiu as artes “degeneradas” e apostou no cinema-propaganda, afugentando grandes diretores do país. Filmes: Metrópolis (Fritz Lang), Nosferatu (F.W. Murnau), O Gabinete do Dr. Caligari (Robert Wiene).

FIGURA 1 – CENA DE “O GABINETE DO DR. CALIGARI”



2.1.2 Impressionismo Francês e Surrealismo

Artistas das vanguardas plásticas trazem inovações às telas. Para não perder nenhum detalhe de grandes paisagens, o excêntrico Abel Gance coloca 3 câmeras lado a lado. Na hora da exibição, usa 3 projetores, inaugurando o formato de tela conhecido hoje. Filmes: O Cão Andaluz (Luis Buñuel e Salvador Dali), A Concha e o Clérigo (Germaine Dulac), Napoleão (Abel Gance).

2.1.3 Montagem Soviética

A falta de película nas faculdades de Moscou leva estudantes de cinema a descobrir a montagem: usando vários pedaços de filmes famosos e a justaposição de imagens, criam uma nova obra. Influenciados pela Revolução Russa, fazem um cinema ideológico, sem perder o impacto visual. Filmes: O Encouraçado Potemkin (Sergei Eisenstein), Um Homem com uma Câmera (Dziga-Vertov).

2.2 GÊNEROS HOLLYWOODIANOS

2.2.1 Cinema Mudo

Fãs dos melodramas de Charles Dickens, os diretores D.W. Griffith e Charles Chaplin se tornam os nomes do cinema mudo americano. Inaugurando a linguagem clássica, o primeiro faz grandes filmes históricos. Já o segundo usa a comédia burlesca de um vagabundo. Filmes: O Nascimento de uma Nação (D.W. Griffith), O Vagabundo (Charles Chaplin), A General (Buster Keaton).

FIGURA 2 – CENA DE “O NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO”



2.2.2 Cinema de Gênero e Western

Com o advento do cinema falado, os produtores decidem fazer do som o personagem principal do cinema. Musicais aparecem em massa e inauguram a época de ouro do cinema americano. Mas Hollywood não vive só de músicas. A ingenuidade das comédias românticas e as disputas de faroestes também preenchem as telas nessa década. Filmes: A Mulher Faz o Homem (Frank Capra), No Tempo das Diligências (John Ford), Picolino (Mark Sandrich).

2.2.3 Film Noir

A violência e as regras da máfia são exploradas nesse gênero, que teve forte influência da literatura policial americana e da estética alemã dos anos 20. Por duas décadas, o Noir – negro, em francês – mostrou crimes e perigosas paixões. Filmes: À Beira do Abismo (Howard Hawks), Anatomia de um Crime (Otto Preminger), Casablanca (Michael Curtiz).

2.2.4 Exploitation

Ao pé da letra, o termo quer dizer exploração. O gênero se refere aos chamados filmes B, feitos com pouca grana e sem méritos artísticos. Baseado em literatura barata e explorando sexo e sangue, o gênero é resgatado nos anos 70 e se populariza nos anos 90, com os filmes de Quentim Tarantino. Filmes: Glen ou Glenda, Plano 9 do Espaço Sideral (Ed Wood Jr.).

2.2.5 Nova Geração: Anos 70

Capitaneados por Francis Ford Coppola e saídos da faculdade, os jovens Martin Scorcese, Brian De Palma, Steven Spielberg e George Lucas invadem Hollywood, trazendo muito lucro aos estúdios com filmes em que a violência e a rebeldia são a tônica. Filmes: O Poderoso Chefão I & II (Francis F. Coppola), Taxi Driver (Martin Scorcese), Tubarão (Steven Spielberg).

FIGURA 3 – CENA DE “O PODEROSO CHEFÃO”



2.2.6 Blockbusters: Anos 80, 90 e 2000

Efeitos especiais levam fantasia e imaginação de volta ao cinema. O resultado: bilheterias astronômicas, sequências milionárias e o futuro da sétima arte. A tecnologia, cada vez mais presente nos equipamentos e nas telas, permite até driblar ataques de estrelismo, usando atores virtuais. Filmes: E.T. (Steven Spielberg), Titanic (James Cameron), a trilogia Senhor dos Anéis (Peter Jackson), as animações da Pixar.

2.3 CINEMA MODERNO

2.3.1 Neo-Realismo Italiano

Temas sociais, atores não profissionais e gravações fora de estúdio. Por levar a realidade do pós-guerra ao cinema com custos tão baixos, os italianos se tornam referência e influenciam diversos diretores, entre eles, o brasileiro Glauber Rocha. Filmes: Ladrões de Bicicleta (Vittorio De Sica), Roma, Cidade Aberta (Roberto Rosselini), A Terra Treme (Luchino Visconti).

2.3.2 Nouvelle Vague

Cansados dos mesmos filmes, críticos da conceituada revista francesa Cahiers du Cinema decidem colocar a mão na massa. Ou melhor, a câmera nos ombros. A nova onda usa a seu favor as dificuldades técnicas para contar histórias simples, criando um estilo único. Filmes: Acossado (Jean-Luc Godard), Os Incompreendidos (François Truffaut).

2.3.3 Cinema Novo Brasileiro

Nasceu de uma visão crítica em relação ao cinema então produzido no Brasil. Seus diretores procuraram contrapor ideias aos valores estéticos de uma cinematografia dominada por interesses industriais. Influenciados pelo Neo-Realismo Italiano, Nouvelle Vague francesa e contaminados pelo espírito desenvolvimentista da era JK, procuravam um equilíbrio entre o “cinema de autor” e a preocupação política em nome da formação de uma “consciência nacional”. Filmes: Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha), Rio 40 Graus (Nelson Pereira dos Santos).

FIGURA 4 – CENA DE “DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL”



2.3.4 Cinema Novo Alemão

Os anos 1950 foram culturalmente desastrosos para o cinema alemão. Os filmes nacionais mostravam uma imagem de província da Alemanha que nada expressava a realidade. Assim, 26 jovens cineastas criaram um movimento exigindo uma mudança no cinema alemão, que ficou conhecido como Manifesto de Oberhausen (1962). Os filmes deveriam ser novamente autênticos, contar histórias que tratassem de pessoas “reais” das ruas, como também deveriam ser filmados em locações originais. O grande exemplo era a Nouvelle Vague, que tinha revolucionado o cinema francês pouco antes. Filmes: Abschied Von Gestern (Alexander Kluge), Mahlzeiten (Edgar Reitz).

2.3.5 Dogma 95

Quatro diretores dinamarqueses se reúnem e criam 10 regras para fazer um cinema puro, simples e sem gênero. Entre elas, ausência de trilha sonora, de luz artificial e de efeitos especiais. O chamado Manifesto Dogma reforça a ideia de que qualquer um pode fazer cinema e cria seguidores pelo mundo. Filmes: Festa de Família (Thomas Vinterberg), Os Idiotas (Lars Von Trier).

FIGURA 5 – CARTAZ DE “FESTA DE FAMÍLIA”



4 MATERIAL E MÉTODOS

O cinema pode ser um poderoso aliado da educação. Sua utilização como um recurso de ensino pode vir a despertar nos alunos a capacidade de análise, reflexão e crítica. As possibilidades do cinema são infinitas: pelos filmes nós nos emocionamos, sonhamos, vivemos histórias, nos divertimos e principalmente aprendemos. Ele é um documento histórico e deve ser levado para a sala de aula como uma forma de análise de fonte histórica.

Segundo Meirelles:

Para entender a importância da relação do cinema com História é importante ressaltar que esta alcançou o status de ciência e disciplina acadêmica  no final do século XIX, ao mesmo tempo em que surgiam na indústria capitalista as inovações técnicas, como a fotografia, a gravura impressa, o cinema e o disco. O uso do filme como documento histórico e como recurso didático no ensino de História é de grande importância, pois não podemos entender a história da sociedade humana a partir do século XX sem conhecer o cinema por ela produzido (MEIRELLES, 2004, p. 79).

No entanto, o professor deve ficar atento à situação de que, muitos alunos, ao saberem sobre exibição de filmes na aula, pensam se tratar de uma aula de “matação”, ou de uma hora de lazer e tendem a não se importar e não prestar atenção. Assim cabe ao professor verificar a relevância do filme a ser apresentado, criar condições de exibição, articular o filme com o currículo, descobrir suas qualidades e eventuais falhas históricas, pensar as habilidades desejadas, conceitos, faixa etária e realidade cultural da sala situando os alunos dentro do contexto e assim possibilitando a eles serem mais críticos e finalmente formadores de opinião. Deste modo, o cinema pode ser amplamente utilizado como recurso educativo.

O professor deve ser o mediador entre a obra (o filme) e seus alunos. E além de prepará-los, propor atividades complementares. Compreendendo os vários aspectos de um filme e sua relação com o tempo histórico estudado, estabelecendo, também, comparações entre o livro didático e o “filme histórico” e, principalmente, identificando as divergências e concordâncias sobre o tema os alunos terão a capacidade de questionar e criticar efetivamente as abordagens dos filmes históricos.

Napolitano nos diz:

Do meu ponto de vista é o tipo de uso mais importante na escola. Um bom vídeo é interessantíssimo para introduzir um novo assunto, para despertar curiosidade e a motivação para novos temas. Isto facilita o desejo de pesquisa nos alunos para aprofundar o assunto do vídeo e da matéria (NAPOLITANO, 2006, p. 34).

Há de se lembrar ainda que, com o lançamento de DVDs (e agora os Blu-Rays), o cinema alcançou o status de um CD ou de um livro onde cada um pode ter sua videoteca particular a não tão alto custo. E nos aparelhos reprodutores, há a possibilidade voltar as imagens, congelar em determinada cena, repetir, mudar o tempo através da câmara lenta e muito mais.

Na disciplina Estágio III, foi trabalhado com alunos das terceiras séries do Ensino Médio, que estavam prestes a entrar no tema “Ascenção dos Regimes Totalitários”. Nestas aulas, através de uso prévio do software Vegas Pro 12.0 foi produzida uma montagem com cenas dos filmes Education for Death, O Menino do Pijama Listrado e Escritores da Liberdade. Todos estes filmes apresentam conceitos essenciais para a compreensão da doutrina nazifascista, especialmente as mudanças ocorridas na sociedade alemã com a ascensão do nazismo ao longo dos anos 1930 e 1940. Nos recortes de vídeo eram efetuadas breve pausas e eram explicadas algumas situações que aconteciam em cena, desde as insígnias nos uniformes dos militares até o complexo estado policial alemão de 1933-1945. Foi realizada uma avaliação muito positiva ao final.

Conforme citado por Meirelles (2004), nos diz Siegfried Kracauer : “é claro que em revistas populares e programas de rádio, bestsellers, anúncios, modismos na linguagem e outros produtos sedimentares da vida cultural de um povo também fornecem informações valiosas. Mas o cinema excede a todas as outras mídias”.

Segundo Santana :

Trabalhar com cinema é muito mais do que projetar uma história, é levar para dentro da sala de aula um documento que é capaz de nos transportar para um mundo distante, num passado longínquo, ou em países e culturas muito distintas da nossa. É viajar sem sair do meio em que vivemos; é viver histórias que não são nossas, mas que mudam a visão que temos do mundo e das pessoas; é saber que todos pertencemos à mesma humanidade, apesar das diferenças; é viver em um período de tempo curto, emoções que contribuem para o nosso crescimento intelectual e espiritual. Nada está pronto e concluído. Depende de nosso esforço e trabalho. O cinema é somente um recurso. Torná-lo atrativo, um caminho para melhorar a educação e o conhecimento é nossa tarefa (SANTANA, 2015, p. 14)

FIGURA 6 – EXIBIÇÃO DE FILME EM SALA DE AULA



5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

    A História, como um todo, já foi objeto de muitos filmes. Desde a pré-história, os egípcios, gregos, romanos, a idade média, personagens como Napoleão, Hipácia, Einstein, as guerras mundiais, as grandes batalhas históricas, tudo já foi retratado nas telonas, em maior ou menor acuracidade histórica (dir-se-ia até filmes sem acuracidade histórica alguma). São empreendimentos comerciais que alcançam a cifra de milhões de dólares. Muitas destas produções são tão meticulosas em todos os seus detalhes, que é inconcebível imaginar que o mais importante, sua história, é falsificada em roteiros cinematográficos que as recontam, por vezes até piorando a realidade. Importante também lembrar que, por vezes, um filme tem mais a dizer sobre o momento em que foi produzido do que a época que pretende retratar. Neste capítulo apresentarei uma lista de filmes dentro de cada uma das características citadas.

5.1 FILMES SEM ACURACIDADE HISTÓRICA

De um ponto de vista histórico, não há o que necessariamente se criticar nos filmes aqui avaliados, uma vez que são abertamente descritos como ficção. Embora saibamos que as histórias apresentadas, como por exemplo, sobre o Rei Arthur sejam mitos europeus, tais filmes podem pegar muitos expectadores desavisados pela sua riqueza de detalhes.

5.1.1 Rei Arthur

King Arthur, 2004. Direção: Antoine Fuqua. Elenco: Clive Owen, Ioan Gruffudd, Mads Mikkelsen, Joel Edgerton, Hugh Dancy, Ray Winstone, Ray Stevenson, Keira Knightley, Stephen Dillane, Stellan Skarsgård, Til Schweiger, Sean Gilder, Pat Kinevane, Ivano Marescotti e Ken Stott. O filme conta uma história fictícia baseada em dados arqueológicos de que a lenda do Rei Arthur teria se originado em uma pessoa real, um comandante romano de nome Artur. No filme, que mistura as evidências históricas com elementos das lendas arturianas, Artur e seus Cavaleiros (provenientes de tribos conquistadas pelo Império Romano) enfrentam os saxões, que invadem a Grã-Bretanha quando o império em decadência está se retirando, deixando os habitantes da ilha a mercê dos invasores. O filme foca-se nas disputas políticas, a queda do império romano, o avanço dos bárbaros saxões, os conflitos religiosos entre cristãos e pagãos e a tentativa desesperada de Arthur em manter a Britânia unida, onde culmina e barbárie desenfreada, afinal tudo era resolvido na espada, com sangue e morte.

5.1.2 A Papisa Joana

Die Päpstin, 2009. Direção: Sönke Wortmann. Elenco: Iain Glen, Suzanne Bertish, John Goodman, Johanna Wokalek, David Wenham, Anatole Taubman e Jördis Triebel. Baseado no romance da autora americana Donna Woolfolk Cross, a Papisa Joana teria sido a única mulher a governar a Igreja durante dois ou três anos, segundo uma lenda que circulou na Europa por vários séculos. Muito já foi debatido e estudado, e existem outros filmes bem como documentários sobre este tema. Mas no final, é considerada pela maioria dos historiadores modernos e estudiosos religiosos como uma história fictícia.

FIGURA 7 – CARTAZ DE “A PAPISA JOANA”



5.1.3 A Última Legião

The Last Legion, 2007. Direção: Doug Lefler. Elenco: Colin Firth, Thomas Sangster, Sir Ben Kingsley, Aishwarya Rai, Peter Mullan, Kevin McKidd, John Hannah, Owen Teale, Rupert Friend, Nonso Anozie, Harry Van Gorkum, Robert Pugh, James Cosmo, Alexander Siddig, Murray McArthur, Iain Glen e Alexandra Thomas-Davies. Baseado em um romance italiano de 2003 escrito por Valerio Massimo Manfredi, é vagamente inspirado pelos acontecimentos da história europeia do século 5, nomeadamente o colapso do Império Romano do Ocidente sob o seu último imperador, Romulus Augustus. Este é acoplado com outros fatos e lendas da história da Grã-Bretanha e os elementos fantásticos da lenda de King Arthur para fornecer uma base para a lenda arturiana.

5.2 FILMES COM MENOR ACURACIDADE HISTÓRICA

5.2.1 Gladiador

Gladiator, 2000. Direção: Ridley Scott. Elenco: Russell Crowe, Joaquin Phoenix, Connie Nielsen, Oliver Reed, Richard Harris, Derek Jacobi, Djimon Hounsou, David Schofield, John Shrapnel, Tomas Arana, Ralf Möller, Spencer Treat Clark, David Hemmings, Tommy Flanagan e Sven-Ole Thorsen. O general romano Máximus Décimus Meridius é traído quando o ambicioso filho do imperador, Cômodo, mata seu pai e toma o trono. Reduzido a um escravo, Máximo ascende através das lutas de gladiadores para vingar a morte de sua família e do antigo Imperador. Este filme possui diversos erros históricos, o que devido às críticas de estudiosos levou seu diretor Ridley Scott a declarar, após o seu lançamento que havia criado “um mundo à parte”. Mas há muita grosseria, como o uso de armas de cerco em batalhas campais, florestas de um tipo único de árvore, coisa só possível a partir de 1500, raça de cachorro que não havia na época, os prédios romanos são brancos, já parecendo velhos quando na época certamente seriam mais novos, cores incorretas nos uniformes dos soldados, disputa de gladiadores sob classes erradas (havia uma ordem de disputa, determinada classe só poderia lutar contra outra e não havia misturas), etc. Mas os erros mais marcantes são: Mesmo no mais tirânico dos regimes imperiais romanos, nunca alguém na posição de Máximus, um general famoso, teria simplesmente sumido para ser exilado e escravizado. Seu banimento seria legalmente registrado – assim ele jamais poderia voltar à Roma, o que fez sob o domínio de Próximus; O imperador Marcus Aurélius jamais baniu os jogos gladiatoriais e ele não foi assassinado por seu filho; Por fim, Roma não foi fundada como uma república, mas como uma monarquia – assim, nunca Marcus Aurélius poderia sonhar, como ele diz no filme, em devolver a república a Roma.

FIGURA 8 – FILMAGENS DE “GLADIADOR”



5.2.2 Os Intocáveis

The Untouchables, 1987. Direção: Brian De Palma. Elenco: Kevin Costner, Sean Connery, Charles Martin Smith, Andy Garcia, Robert De Niro, Patricia Clarkson, Billy Drago, Richard Bradford, Jack Kehoe, Brad Sullivan e Clifton James. Na Chicago da época da Lei Seca, Al Capone corrompe, controla e corroí a cidade através da venda ilegal de bebidas alcoólicas. Eliot Ness é um agente federal que chega na cidade com a missão de acabar com as atividades ilegais. Pelo menos em cinco cenas deste filme encontramos erros históricos: a cena clímax, no tribunal, que coloca Capone e Ness frente a frente nunca ocorreu, os dois homens jamais ficaram cara a cara; Ness é retratado como um pai de família trabalhador e de elevada moral - na verdade o Eliot Ness da vida real teve casamentos fracassados, uma carreira irregular e rumores apontam para problemas com alcoolismo; Frank Nitti, o personagem que é jogado pelo telhado, não morreu desta forma - ele se suicidou na prisão, antes do seu julgamento; Os "intocáveis" do filme são Eliot Ness, Oscar Wallace, Jim Malone e George Stone - na vida real haviam pelo menos dez homens na equipe, nenhum deles com os nomes apontados no filme; A cena em que o advogado de Al Capone decide mudar seu veredicto é completamente sem sentido - a nenhum advogado é permitido este tipo de ação.

5.2.3 O Que é Isso, Companheiro?

O Que é Isso, Companheiro?, 1997. Direção: Bruno Barreto. Elenco: Pedro Cardoso, Fernanda Torres, Alan Arkin, Matheus Nachtergaele, Luiz Fernando Guimarães, Cláudia Abreu, Nélson Dantas, Caio Junqueira, Marco Ricca, Maurício Gonçalves, Selton Mello, Du Moscovis, Fernanda Montenegro, Lulu Santos, Othon Bastos, Alessandra Negrini, Fisher Stevens, Antônio Pedro, Milton Gonçalves, Oto de Lima, Caroline Kava e Charles Myara. Com roteiro parcialmente baseado no livro homônimo de Fernando Gabeira, escrito em 1979, o enredo conta a história verídica do sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick, em setembro de 1969, por integrantes dos grupos guerrilheiros de esquerda MR-8 e Ação Libertadora Nacional, que lutavam contra a ditadura militar instalada no país em 1964 e pretendiam trocar o embaixador por companheiros presos. Embora muito bem feito do ponto de vista cinematográfico, o filme deixa a desejar nos fatos reais do qual foi inspirado. Há tantos problemas de ordem histórica neste filme que um livro chegou a ser editado: Versões e Ficções – O Sequestro da História, com artigos de 17 historiadores e jornalistas demonstrando sua insatisfação, inclusive com entrevistas cedidas por participantes reais do sequestro.

Vejamos um trecho do livro:

Como é natural quando se leva para o cinema uma obra cuja matriz saiu da vida real, muitas situações foram simplificadas [...]. A versão cinematográfica de O que é isso, companheiro? radicalizou um traço da versão em livro, lembranças autobiográficas no qual Gabeira já vitaminava seus próprios feitos, dava um verniz charmoso a seu papel e ironizava a atuação de outros integrantes da operação. Com personagens que usam nomes e codinomes reais, textos explicando grandes acontecimentos, cenas em preto-e-branco como se fossem saídas do arquivo, o filme tenta, o tempo inteiro, dar a impressão de que é um relato de fatos reais, com uma ou outra alteração apenas para facilitar as opções dramáticas. Mas é menos cuidadoso do que parece. Nas cenas finais, informa que em 1979 o regime militar aprovou uma anistia destinada a “todos os presos políticos” — na verdade, um punhado deles ficou de fora na época, inclusive um dos participantes do seqüestro de Elbrick, Manoel Cyrillo de Oliveira Netto. Gabeira é apresentado como o sujeito que teve a ideia do sequestro, escreveu o manifesto divulgado pela TV e, por fim, foi o primeiro a fazer o balanço de que a luta armada era um sonho derrotado e sem remédio. Isso está longe de ser verdadeiro. Gabeira entrou e saiu da operação como um militante raso do MR-8, ou pouco mais do que isso. Já residia na casa onde o embaixador foi abrigado — ali deveria cuidar da imprensa da organização — e por essa razão ficou no local. Na hora dos trabalhos finais de limpeza, Gabeira ficou encarregado de recolher um paletó que pertencia a um graduado participante do sequestro. Descuidou da tarefa, os militares descobriram a peça de roupa, localizaram o alfaiate e acabaram fazendo uma prisão importante. Sem humanizar os personagens, o filme perde a chance de fazer um ajuste de contas honesto com algumas mitologias da esquerda — o máximo que mostra são traços de personalidade, como arrogância, autoritarismo. Mas havia muito a procurar. Há quem cultive a lenda de que a luta armada só foi iniciada depois que o regime bloqueou os espaços para a atuação política e a mobilização popular. É uma tese falsa, pois não havia carência de democracia apenas no governo. Havia grupos de esquerda treinando guerrilha antes da queda de João Goulart, e os assaltos a Banco destinados a financiar estruturas clandestinas são anteriores ao AI-5. Essa fatia da esquerda produzia seu beco sem saída, um impasse resolvido pela força bruta, com seu esmagamento. Desprezavam-se os valores democráticos. Não se apostava na ação política [...]. Não havia por que discutir quem venceu e quem perdeu numa escalada de violência que, iniciada em 1969, já estava encerrada em 1972, quando os últimos integrantes das organizações armadas sobreviviam numa delinquência sem perspectiva. Esse mundo clandestino desabou com militantes presos, foragidos, mortos, desaparecidos. Mas os derrotados não são necessariamente menos generosos, mais perversos nem mais mesquinhos do que os vitoriosos, e é uma pena que esse seja o retrato deixado pelo filme. “São máscaras chapadas, sem história, figuras feitas disponíveis para a circulação do preconceito”, explica Ismail Xavier (REIS FILHO; GASPARI; BENJAMIN, 2007, p. 54-60).

5.2.4 Coração Valente

Braveheart, 1995. Direção: Mel Gibson. Elenco: Mel Gibson, Patrick McGoohan, Catherine McCormack, Sophie Marceau, Angus Macfadyen, Brian Cox, Gerda Stevenson e Peter Hanly. O filme retrata a figura histórica de William Wallace, guerreiro, patriota escocês e herói medieval. O realizador tenta conferir ao protagonista uma faceta mais romântica e idealista e menos sanguinária. Mas há muito mais erros, citemos alguns: o romance de Wallace com a princesa Isabelle (ela tinha nove anos de idade quando Wallace foi executado e dois quando a trama do romance no filme se desenrola), o fato de não existir tomate na época (o tomate foi introduzido na Europa séculos após a morte dos personagens deste filme), Wallace e Robert The Bruce jamais se encontraram (e o apelido “Coração Valente” foi de Robert, não de Wallace). E um dos mais graves: a Primae noctis, que dá início a toda a trama do filme, jamais ocorreu em toda a história das Ilhas Britânicas.

FIGURA 9 – FILMAGENS DE “CORAÇÃO VALENTE”



5.2.5 Alexandria

Ágora, 2009. Direção: Alejandro Amenábar. Elenco: Rachel Weisz, Max Minghella, Oscar Isaac, Ashraf Barhom, Michael Lonsdale, Rupert Evans, Richard Durden, Sami Samir. Relata a história da filósofa Hipátia, que viveu em Alexandria, no Egito, entre os anos 355 e 415, época da dominação romana. É um belo filme que simula como seria a famosa Biblioteca de Alexandria, entre outros locais da antiguidade. Durante o relato, a história apresenta uma licença romântica, incluindo uma ligação entre Hipátia e um de seus escravos. Além da idade da protagonista (ela teria entre quarenta e sessenta anos quando morreu), sua morte também é muito diferente da retratada no filme. A matemática foi atacada por uma multidão, em março de 415, descarnada e destroçada.

5.2.6 Lutero

Luther, 2003. Direção: Eric Till. Elenco: Joseph Fiennes, Alfred Molina, Jonathan Firth, Claire Cox, Peter Ustinov, Bruno Ganz, Uwe Ochsenknecht, Mathieu Carrière e Benjamin Sadler. Cobre a vida do reformador alemão Martinho Lutero (1483–1546), desde que ele tornou-se um monge (1505) até a Confissão de Augsburgo (1530). Embora tenha ótima reconstituição de época, possui uma série de anacronismos e imprecisões históricas, como por exemplo, quando Lutero diz que o V Concílio de Latrão contrariaria o IV Concílio de Latrão, pois um teria definido que fora da Igreja Católica não há salvação, mas outro admitiu que poderia haver salvação, embora não fora de Cristo. Na vida real, estes concílios jamais se contradisseram e ambos afirmaram que "fora da Igreja Católica não há salvação". Em outra cena, o príncipe Frederico da Saxônia recebe a Rosa de Ouro como um suborno para entregar Lutero a Roma. Na vida real, ele foi premiado com o rosa antes de conhecer Lutero. No filme Lutero defende que os suicidas sejam enterrados em cemitérios, tendo ele próprio escavado a cova de uma criança suicida. Na vida real tal fato nunca ocorreu e Lutero contrariamente ao que relatou o filme, defendia que os suicidas não tivessem o direito ao enterro.

5.2.7 Amadeus

Amadeus, 1984. Direção: Milos Forman. Elenco: F. Murray Abraham, Tom Hulce, Elizabeth Berridge, Simon Callow, Roy Dotrice, Christine Ebersole, Jeffrey Jones, Charles Kay, Vincent Schiavelli, Barbara Bryne, Martin Cavani, Roderick Cook, Milan Demjanenko e Peter DiGesu. Baseado na peça homônima de Peter Shaffer, é livremente inspirado nas vidas dos compositores Wolfgang Amadeus Mozart e Antonio Salieri, que viveram em Viena, na Áustria, durante a segunda metade do século XVIII. O filme é uma obra-prima indiscutível, mas não é fiel à realidade. A história é fantasiosa e injusta com Antônio Salieri, um grande músico, retratado como invejoso. Embora ele e Mozart fossem concorrentes, não eram inimigos. Outra inverdade diz respeito à diferença de idade entre os dois: enquanto no filme Salieri já é velho e Mozart aparece adolescente, na realidade a diferença de idade entre eles era de seis anos. Salieri foi compositor da corte do imperador José II e diretor da orquestra do Teatro Municipal de Viena, compôs dezenas de óperas e até deu aulas para Beethoven, além de ter feito mais sucesso que Mozart. Se um deles tinha razão para ter inveja, era Mozart.

5.3 FILMES COM MAIOR ACURACIDADE HISTÓRICA

5.3.1 Glória Feita de Sangue

Paths of Glory, 1957. Direção: Stanley Kubrick. Elenco: Kirk Douglas, Ralph Meeker, Adolphe Menjou, George Macready, Wayne Morris, Richard Anderson, Timothy Carey, Bert Freed e Joseph Turkel. Baseado em romance de Humphrey Cobb. Durante a Primeira Grande Guerra, general francês ordena um ataque suicida contra os alemães, que resulta em tragédia. Para abafar sua participação no incidente, ele escolhe três soldados como bodes-expiatórios, julgando-os e condenando-os à morte. As trincheiras da Grande Guerra nas lentes de Stanley Kubrick. Inspirado em fatos reais, retrata os horrores desta guerra, principalmente aqueles que eram cometidos não no front, mas atrás de uma mesa onde soldados não passavam de números. O filme foi censurado na França por vários anos devido ao modo como retratou os oficiais franceses. Um dois maiores manifestos antibelicistas da história do cinema.

FIGURA 10 – FILMAGENS DE “GLÓRIA FEITA DE SANGUE”



5.3.2 Cruz de Ferro

Cross of Iron, 1977. Direção: Sam Peckinpah. Elenco: James Coburn, Maximilian Schell, James Mason, David Warner, Senta Berger, Klaus Löwitsch, Roger Fritz, Vadim Glowna, Fred Stillkrauth, Burkhardt Driest, Dieter Schidor, Michael Nowka e Veronique Vendell. Baseado no livro Das geduldige Fleisch, de Willi Heinrich, o filme focaliza a Segunda Guerra Mundial sob o ponto de vista dos combatentes alemães após a batalha de Stalingrado e desmistifica a ideia de crueldade insana atribuída a eles. Um filme frio como a guerra, sujo, lamacento, violento e sem esperanças.

5.3.3 Barry Lyndon

Barry Lyndon, 1975. Direção: Stanley Kubrick. Elenco: Ryan O'Neal, Marisa Berenson, Patrick Magee, Hardy Krüger, Steven Berkoff, Gay Hamilton, Marie Kean, Diana Körner e Murray Melvin. Com roteiro baseado em romance de William Makepeace Thackeray, o filme é basicamente um conto sobre a ascensão e o declínio social do personagem-título na Inglaterra do século XVIII, dividido claramente em duas partes. A reconstituição do período é maravilhosa. A maioria das vestimentas são originais da época, compradas de colecionadores e emprestadas de museus, bem como os quadros e outras peças de cena. A iluminação é natural, de luz de velas, com um efeito nunca visto antes no cinema, realizado por uma câmera especial encomendada por Kubrick com lentes de NASA. Possivelmente o melhor retrato do século XVIII em película, talvez um dos melhores filmes históricos já feitos.

FIGURA 11 – FILMAGENS DE “BARY LYNDON”



5.3.4 O Pianista

The Pianist, 2002. Direção: Roman Polanski. Elenco: Adrien Brody, Thomas Kretschmann, Emilia Fox, Michał Żebrowski, Ed Stoppard, Maureen Lipman, Frank Finlay, Jessica Kate Meyer, Julia Rayner, David Singer, Richard Ridings, Daniel Caltagirone e Valentine Pelka. Baseado na autobiografia de mesmo nome escrito pelo músico Polaco Władysław Szpilman. O filme mostra o surgimento do Gueto de Varsóvia, quando os alemães construíram muros para encerrar os judeus em algumas áreas, e acompanha a perseguição que levou à captura e envio da família de Szpilman para os campos de concentração. Wladyslaw é o único que consegue fugir e é obrigado a se refugiar em prédios abandonados espalhados pela cidade, até que o pesadelo da guerra acabe. Brilhante reconstituição desta época por um diretor que viveu tudo aquilo na pele e lá perdeu sua família. Polanski quando criança foi levado ao gueto e eventualmente fugiu, tendo vivido os anos restantes da guerra na fazenda de um polonês. Reencontrou seu pai após a guerra.

5.3.5 Giordano Bruno

Giordano Bruno, 1973. Direção: Giuliano Montaldo. Elenco: Gian Maria Volonté, Charlotte Rampling, Hans Christian Blech, Mathieu Carrière, Renato Scarpa, Giuseppe Maffioli, Massimo Foschi e Mark Burns. O filme narra o processo movido pela Inquisição Romana contra o filósofo italiano Giordano Bruno, no qual o mesmo recusou qualquer retratação, sendo condenado e queimado vivo no ano de 1600. O grande destaque do filme é a fotografia de Vittorio Storaro. Usando archotes para iluminar as principais cenas, ele consegue efeitos visuais impressionantes, sobretudo na caminhada de Bruno para a morte, pelas ruas de Roma. A reconstituição de época é fantástica, perfeccionista até nos detalhes, como a coleira que Giordano foi forçado a usar, que continha uma ponta de ferro que perfurou sua língua, para que não blasfemasse a caminho do cadafalso. O sombrio abismo entre o sagrado e o profano está perfeitamente delineado na música de Ennio Morricone: peças intensas de música coral religiosa, alternando para sugestivos temas atonais que destacam por sua vez o lado científico do protagonista, vivido em uma sociedade sempre crente no oculto e sempre alerta à caça às bruxas devido à Inquisição dominante.

FIGURA 12 – CARTAZ DE “GIORDANO BRUNO”



6 CONCLUSÃO

Um filme histórico precisa ser fiel à realidade? Pode um produtor de arte alterar o conhecimento histórico em prol de adicionar elementos mais atraentes aos olhos dos espectadores? Seria a História tão brutal ou tão sem graça que necessite de floreios para ser aceita pelo público? Muitos cineastas argumentam que filme não é documentário, mas sim uma interpretação ficcional da realidade. Só que essa interpretação — que é datada, localizada e utiliza nomes reais — deve ter, pelo menos, um compromisso com o espírito do que de fato ocorreu.

É difícil entender como em tantas produções multimilionárias onde se acerta em praticamente tudo, se erra no mais importante: a História. Confundem-se acontecimentos, unificam-se personagens, troca-se diálogos, avança-se ou retroage-se no tempo. Os filmes históricos tratam de fatos e personagens reais, de uma época sobre a qual geralmente há muita curiosidade e também muito desconhecimento. Há tanta coisa que passa incólume nas escolas, nos currículos atuais, então quando há o interesse em determinado fato histórico, minha opinião é que deve-se prezar pelo saber histórico, pela verdade do que ocorreu.

A história real detém uma beleza singular e minha tese é de que não há motivos para qualquer alteração dela, o que quando ocorre, constitui numa aberração travestida de arte.

REFERÊNCIAS

CABRERA, Julio. O cinema pensa: uma introdução à filosofia através dos filmes. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2006.

FERRO, Marc. Cinema e história. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

FREITAS, Enio de. História e cinema: encontro de conhecimento em sala de aula. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012.

GEADA, Eduardo. O poder do cinema. Lisboa: Livros Horizonte, 1985.

________. O Imperialismo e o Facismo no cinema. Lisboa: Moraes Editores, 1977.

KORNIS, Mônica Almeida. História e cinema, um debate metodológico. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 5, n. 10, p. 237-250, 1992.

LIMA, Carlos Adriano F. de. Quando o historiador deixa de assistir e começa a analisar: Reflexões sobre a relação história e cinema. Disponível em: <http://www.anpuhpb.org/anais_xiii_eeph/textos/st%2005%20%20historia%20e%20cinema.pdf>. Acesso em 09 set. 2015.

MACEDO, José Rivair; MONGELLI, Lênia Marcia. A Idade Média no cinema. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009.

MASCARELLO, Fernando. História do cinema mundial. Campinas: Papirus, 2006.

MEIRELLES, Willian Reis. O cinema na história: o uso do filme como recurso didático no ensino de história. História e ensino, Londrina, v. 10, p. 77-88, out. 2004.

________. O cinema como fonte para o estudo da história. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/histensino/article/view/12698>. Acesso em 20 mar. 2015.

MOCELLIN, Renato. Ressureições luminosas - cinema, história e escola: análise do discurso em épicos hollywoodianos sob a perspectiva do letramento midiático. 2009. 138 f. Dissertação (Pós-Graduação em Educação) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009.

NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema em sala de aula. São Paulo: Contexto, 2006.

RAMOS, José Mario Ortiz. Cinema, estado e lutas culturais. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

REIS FILHO, Daniel Aarão; GASPARI, Elio; BENJAMIN, César. Versões e Ficções - O sequestro da história. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2007.

SANTANA, Denice Carvalho. O Cinema nas Aulas de História. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1360-8.pdf>. Acesso em 09 set. 2015.

TAVARES, Ingrid. A história do cinema. Revista Superinteressante, São Paulo, Ed. 219, nov. 2005.

2 comentários:

  1. Unknown disse...:

    concordo meu amigo, não vejo porque gastar milhões e não relatar o que realmente aconteceu,por mais que se diga, que foi a versão do diretor ou qualquer coisa do tipo,temos que entender que isso ficara registrado como informação, e em muitos casos, talvez seja a unica que um estudante tenha.

  1. Valdemar disse...:

    Concordamos em gênero, número e grau!

Postar um comentário

 
O assunto é... HISTÓRIA! © 2012-2019 | Todos os direitos reservados