História Vs. Hollywood, ou quando o cinema se apropria da história (Trabalho de Graduação)

segunda-feira, 29 de junho de 2015 2 comentários



 Nota: aqui estão postados apenas excertos do trabalho de graduação.


1 INTRODUÇÃO

O cinema detém um grande poder na construção da cultura, do conhecimento, da ideologia. Por isso, é um importante aliado da educação, quando bem usado nas salas de aula. O problema é quando, em nome de uma suposta “estética” do filme, os realizadores cinematográficos tomam liberdades artísticas e alteram a seu bel prazer o saber histórico. O presente trabalho, situado na área de concentração “Dinâmicas do Ensino de História” mediante pesquisa bibliográfica em livros, revistas pedagógicas, artigos de periódicos e web sites educacionais, visa estudar as situações onde o cinema se apropria da história real. Na primeira parte, discorrerei sobre a história do cinema, sua criação, principais escolas e movimentos, caracterizando sua importância dentro da história do século XX. Em seguida pretendo demonstrar seu valor no ensino de História, ou seja, a aplicação do mesmo em sala de aula. Na última parte do trabalho pretendo demonstrar, através da crítica a vários filmes, que é possível fazer um cinema histórico de qualidade, sem se apropriar da história inventado fatos ou subtraindo acontecimentos.

2 A HISTÓRIA DO CINEMA

A primeira exibição pública do que viria a ser o cinema, foi realizada em Paris, no dia 28 de dezembro de 1895, numa sala do Grand Café no Boulevard des Capucines 14, subsolo do local e durou cerca de 20 minutos. Podemos imaginar as luzes se apagando e as trinta e cinco pessoas presentes que pagaram um franco cada, surpresas assistindo a execução de um engenho chamado por seus inventores, os irmãos Lumière, de cinematógrafo, que reproduzia mecanicamente sobre uma tela branca imagens em movimento. E estas imagens, a chegada de um trem na estação e a saída dos operários da fábrica, apavorou e emocionou todos os presentes.

A primeira sessão de cinema trazia à realidade um dos grandes sonhos do homem, o de captar e poder reproduzir o mundo. E este sonho acompanhou toda a nossa história. Os tetos e paredes de cavernas de nossos antepassados, o teatro de sombras dos chineses, a “câmara obscura” renascentista e a lanterna mágica, pavimentaram o caminho que tornou o cinema uma realidade no final do século XIX. Então sete anos depois de sua primeira exibição pelos irmãos Lumière, com as trucagens do francês Georges Mèliés, o cinema virou arte, ou a "sétima arte".

Se na Europa, a primeira sessão pública, organizada pelos Lumière foi rápida e barata, nos Estados Unidos a milionária indústria cinematográfica foi fundada por produtores independentes. Em 1912, eles deixaram Nova Jersey para fugir da guerra judicial promovida por Thomas Edison, que detinha as patentes dos equipamentos de filmagem, e fundaram Hollywood. Com o passar das décadas, Hollywood se tornou símbolo do poderoso e fantástico cinema estadunidense, sediando premiações e abrigando homenagens públicas para os mais destacados artistas de cinema e musicais do mundo. A palavra "Hollywood" é frequentemente usada como uma metonímia do cinema americano.

Hoje milhões de pessoas enchem as salas de projeção cinematográfica em todo mundo. O cinema é um dos meios de comunicação que exercem maior influência na sociedade, seja nos costumes, linguagem, bem como em seu saber histórico, cultural e ideológico. Entender o mundo neste século será uma tarefa incompleta se não se estudar o cinema por ele produzido. Nos capítulos seguintes, estudaremos os principais movimentos e escolas cinematográficas.

2.1 VANGUARDA DOS ANOS 1920

2.1.1 Expressionismo Alemão

República de Weimar, início dos anos 20. Sombras, loucura e grotesco são os atores principais do cinema alemão. O movimento expressionista tenta representar o clima pós-guerra que toma conta do país e dura até a ascensão de Hitler, que proibiu as artes “degeneradas” e apostou no cinema-propaganda, afugentando grandes diretores do país. Filmes: Metrópolis (Fritz Lang), Nosferatu (F.W. Murnau), O Gabinete do Dr. Caligari (Robert Wiene).

FIGURA 1 – CENA DE “O GABINETE DO DR. CALIGARI”



2.1.2 Impressionismo Francês e Surrealismo

Artistas das vanguardas plásticas trazem inovações às telas. Para não perder nenhum detalhe de grandes paisagens, o excêntrico Abel Gance coloca 3 câmeras lado a lado. Na hora da exibição, usa 3 projetores, inaugurando o formato de tela conhecido hoje. Filmes: O Cão Andaluz (Luis Buñuel e Salvador Dali), A Concha e o Clérigo (Germaine Dulac), Napoleão (Abel Gance).

2.1.3 Montagem Soviética

A falta de película nas faculdades de Moscou leva estudantes de cinema a descobrir a montagem: usando vários pedaços de filmes famosos e a justaposição de imagens, criam uma nova obra. Influenciados pela Revolução Russa, fazem um cinema ideológico, sem perder o impacto visual. Filmes: O Encouraçado Potemkin (Sergei Eisenstein), Um Homem com uma Câmera (Dziga-Vertov).

2.2 GÊNEROS HOLLYWOODIANOS

2.2.1 Cinema Mudo

Fãs dos melodramas de Charles Dickens, os diretores D.W. Griffith e Charles Chaplin se tornam os nomes do cinema mudo americano. Inaugurando a linguagem clássica, o primeiro faz grandes filmes históricos. Já o segundo usa a comédia burlesca de um vagabundo. Filmes: O Nascimento de uma Nação (D.W. Griffith), O Vagabundo (Charles Chaplin), A General (Buster Keaton).

FIGURA 2 – CENA DE “O NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO”



2.2.2 Cinema de Gênero e Western

Com o advento do cinema falado, os produtores decidem fazer do som o personagem principal do cinema. Musicais aparecem em massa e inauguram a época de ouro do cinema americano. Mas Hollywood não vive só de músicas. A ingenuidade das comédias românticas e as disputas de faroestes também preenchem as telas nessa década. Filmes: A Mulher Faz o Homem (Frank Capra), No Tempo das Diligências (John Ford), Picolino (Mark Sandrich).

2.2.3 Film Noir

A violência e as regras da máfia são exploradas nesse gênero, que teve forte influência da literatura policial americana e da estética alemã dos anos 20. Por duas décadas, o Noir – negro, em francês – mostrou crimes e perigosas paixões. Filmes: À Beira do Abismo (Howard Hawks), Anatomia de um Crime (Otto Preminger), Casablanca (Michael Curtiz).

2.2.4 Exploitation

Ao pé da letra, o termo quer dizer exploração. O gênero se refere aos chamados filmes B, feitos com pouca grana e sem méritos artísticos. Baseado em literatura barata e explorando sexo e sangue, o gênero é resgatado nos anos 70 e se populariza nos anos 90, com os filmes de Quentim Tarantino. Filmes: Glen ou Glenda, Plano 9 do Espaço Sideral (Ed Wood Jr.).

2.2.5 Nova Geração: Anos 70

Capitaneados por Francis Ford Coppola e saídos da faculdade, os jovens Martin Scorcese, Brian De Palma, Steven Spielberg e George Lucas invadem Hollywood, trazendo muito lucro aos estúdios com filmes em que a violência e a rebeldia são a tônica. Filmes: O Poderoso Chefão I & II (Francis F. Coppola), Taxi Driver (Martin Scorcese), Tubarão (Steven Spielberg).

FIGURA 3 – CENA DE “O PODEROSO CHEFÃO”



2.2.6 Blockbusters: Anos 80, 90 e 2000

Efeitos especiais levam fantasia e imaginação de volta ao cinema. O resultado: bilheterias astronômicas, sequências milionárias e o futuro da sétima arte. A tecnologia, cada vez mais presente nos equipamentos e nas telas, permite até driblar ataques de estrelismo, usando atores virtuais. Filmes: E.T. (Steven Spielberg), Titanic (James Cameron), a trilogia Senhor dos Anéis (Peter Jackson), as animações da Pixar.

2.3 CINEMA MODERNO

2.3.1 Neo-Realismo Italiano

Temas sociais, atores não profissionais e gravações fora de estúdio. Por levar a realidade do pós-guerra ao cinema com custos tão baixos, os italianos se tornam referência e influenciam diversos diretores, entre eles, o brasileiro Glauber Rocha. Filmes: Ladrões de Bicicleta (Vittorio De Sica), Roma, Cidade Aberta (Roberto Rosselini), A Terra Treme (Luchino Visconti).

2.3.2 Nouvelle Vague

Cansados dos mesmos filmes, críticos da conceituada revista francesa Cahiers du Cinema decidem colocar a mão na massa. Ou melhor, a câmera nos ombros. A nova onda usa a seu favor as dificuldades técnicas para contar histórias simples, criando um estilo único. Filmes: Acossado (Jean-Luc Godard), Os Incompreendidos (François Truffaut).

2.3.3 Cinema Novo Brasileiro

Nasceu de uma visão crítica em relação ao cinema então produzido no Brasil. Seus diretores procuraram contrapor ideias aos valores estéticos de uma cinematografia dominada por interesses industriais. Influenciados pelo Neo-Realismo Italiano, Nouvelle Vague francesa e contaminados pelo espírito desenvolvimentista da era JK, procuravam um equilíbrio entre o “cinema de autor” e a preocupação política em nome da formação de uma “consciência nacional”. Filmes: Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha), Rio 40 Graus (Nelson Pereira dos Santos).

FIGURA 4 – CENA DE “DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL”



2.3.4 Cinema Novo Alemão

Os anos 1950 foram culturalmente desastrosos para o cinema alemão. Os filmes nacionais mostravam uma imagem de província da Alemanha que nada expressava a realidade. Assim, 26 jovens cineastas criaram um movimento exigindo uma mudança no cinema alemão, que ficou conhecido como Manifesto de Oberhausen (1962). Os filmes deveriam ser novamente autênticos, contar histórias que tratassem de pessoas “reais” das ruas, como também deveriam ser filmados em locações originais. O grande exemplo era a Nouvelle Vague, que tinha revolucionado o cinema francês pouco antes. Filmes: Abschied Von Gestern (Alexander Kluge), Mahlzeiten (Edgar Reitz).

2.3.5 Dogma 95

Quatro diretores dinamarqueses se reúnem e criam 10 regras para fazer um cinema puro, simples e sem gênero. Entre elas, ausência de trilha sonora, de luz artificial e de efeitos especiais. O chamado Manifesto Dogma reforça a ideia de que qualquer um pode fazer cinema e cria seguidores pelo mundo. Filmes: Festa de Família (Thomas Vinterberg), Os Idiotas (Lars Von Trier).

FIGURA 5 – CARTAZ DE “FESTA DE FAMÍLIA”



4 MATERIAL E MÉTODOS

O cinema pode ser um poderoso aliado da educação. Sua utilização como um recurso de ensino pode vir a despertar nos alunos a capacidade de análise, reflexão e crítica. As possibilidades do cinema são infinitas: pelos filmes nós nos emocionamos, sonhamos, vivemos histórias, nos divertimos e principalmente aprendemos. Ele é um documento histórico e deve ser levado para a sala de aula como uma forma de análise de fonte histórica.

Segundo Meirelles:

Para entender a importância da relação do cinema com História é importante ressaltar que esta alcançou o status de ciência e disciplina acadêmica  no final do século XIX, ao mesmo tempo em que surgiam na indústria capitalista as inovações técnicas, como a fotografia, a gravura impressa, o cinema e o disco. O uso do filme como documento histórico e como recurso didático no ensino de História é de grande importância, pois não podemos entender a história da sociedade humana a partir do século XX sem conhecer o cinema por ela produzido (MEIRELLES, 2004, p. 79).

No entanto, o professor deve ficar atento à situação de que, muitos alunos, ao saberem sobre exibição de filmes na aula, pensam se tratar de uma aula de “matação”, ou de uma hora de lazer e tendem a não se importar e não prestar atenção. Assim cabe ao professor verificar a relevância do filme a ser apresentado, criar condições de exibição, articular o filme com o currículo, descobrir suas qualidades e eventuais falhas históricas, pensar as habilidades desejadas, conceitos, faixa etária e realidade cultural da sala situando os alunos dentro do contexto e assim possibilitando a eles serem mais críticos e finalmente formadores de opinião. Deste modo, o cinema pode ser amplamente utilizado como recurso educativo.

O professor deve ser o mediador entre a obra (o filme) e seus alunos. E além de prepará-los, propor atividades complementares. Compreendendo os vários aspectos de um filme e sua relação com o tempo histórico estudado, estabelecendo, também, comparações entre o livro didático e o “filme histórico” e, principalmente, identificando as divergências e concordâncias sobre o tema os alunos terão a capacidade de questionar e criticar efetivamente as abordagens dos filmes históricos.

Napolitano nos diz:

Do meu ponto de vista é o tipo de uso mais importante na escola. Um bom vídeo é interessantíssimo para introduzir um novo assunto, para despertar curiosidade e a motivação para novos temas. Isto facilita o desejo de pesquisa nos alunos para aprofundar o assunto do vídeo e da matéria (NAPOLITANO, 2006, p. 34).

Há de se lembrar ainda que, com o lançamento de DVDs (e agora os Blu-Rays), o cinema alcançou o status de um CD ou de um livro onde cada um pode ter sua videoteca particular a não tão alto custo. E nos aparelhos reprodutores, há a possibilidade voltar as imagens, congelar em determinada cena, repetir, mudar o tempo através da câmara lenta e muito mais.

Na disciplina Estágio III, foi trabalhado com alunos das terceiras séries do Ensino Médio, que estavam prestes a entrar no tema “Ascenção dos Regimes Totalitários”. Nestas aulas, através de uso prévio do software Vegas Pro 12.0 foi produzida uma montagem com cenas dos filmes Education for Death, O Menino do Pijama Listrado e Escritores da Liberdade. Todos estes filmes apresentam conceitos essenciais para a compreensão da doutrina nazifascista, especialmente as mudanças ocorridas na sociedade alemã com a ascensão do nazismo ao longo dos anos 1930 e 1940. Nos recortes de vídeo eram efetuadas breve pausas e eram explicadas algumas situações que aconteciam em cena, desde as insígnias nos uniformes dos militares até o complexo estado policial alemão de 1933-1945. Foi realizada uma avaliação muito positiva ao final.

Conforme citado por Meirelles (2004), nos diz Siegfried Kracauer : “é claro que em revistas populares e programas de rádio, bestsellers, anúncios, modismos na linguagem e outros produtos sedimentares da vida cultural de um povo também fornecem informações valiosas. Mas o cinema excede a todas as outras mídias”.

Segundo Santana :

Trabalhar com cinema é muito mais do que projetar uma história, é levar para dentro da sala de aula um documento que é capaz de nos transportar para um mundo distante, num passado longínquo, ou em países e culturas muito distintas da nossa. É viajar sem sair do meio em que vivemos; é viver histórias que não são nossas, mas que mudam a visão que temos do mundo e das pessoas; é saber que todos pertencemos à mesma humanidade, apesar das diferenças; é viver em um período de tempo curto, emoções que contribuem para o nosso crescimento intelectual e espiritual. Nada está pronto e concluído. Depende de nosso esforço e trabalho. O cinema é somente um recurso. Torná-lo atrativo, um caminho para melhorar a educação e o conhecimento é nossa tarefa (SANTANA, 2015, p. 14)

FIGURA 6 – EXIBIÇÃO DE FILME EM SALA DE AULA



5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

    A História, como um todo, já foi objeto de muitos filmes. Desde a pré-história, os egípcios, gregos, romanos, a idade média, personagens como Napoleão, Hipácia, Einstein, as guerras mundiais, as grandes batalhas históricas, tudo já foi retratado nas telonas, em maior ou menor acuracidade histórica (dir-se-ia até filmes sem acuracidade histórica alguma). São empreendimentos comerciais que alcançam a cifra de milhões de dólares. Muitas destas produções são tão meticulosas em todos os seus detalhes, que é inconcebível imaginar que o mais importante, sua história, é falsificada em roteiros cinematográficos que as recontam, por vezes até piorando a realidade. Importante também lembrar que, por vezes, um filme tem mais a dizer sobre o momento em que foi produzido do que a época que pretende retratar. Neste capítulo apresentarei uma lista de filmes dentro de cada uma das características citadas.

5.1 FILMES SEM ACURACIDADE HISTÓRICA

De um ponto de vista histórico, não há o que necessariamente se criticar nos filmes aqui avaliados, uma vez que são abertamente descritos como ficção. Embora saibamos que as histórias apresentadas, como por exemplo, sobre o Rei Arthur sejam mitos europeus, tais filmes podem pegar muitos expectadores desavisados pela sua riqueza de detalhes.

5.1.1 Rei Arthur

King Arthur, 2004. Direção: Antoine Fuqua. Elenco: Clive Owen, Ioan Gruffudd, Mads Mikkelsen, Joel Edgerton, Hugh Dancy, Ray Winstone, Ray Stevenson, Keira Knightley, Stephen Dillane, Stellan Skarsgård, Til Schweiger, Sean Gilder, Pat Kinevane, Ivano Marescotti e Ken Stott. O filme conta uma história fictícia baseada em dados arqueológicos de que a lenda do Rei Arthur teria se originado em uma pessoa real, um comandante romano de nome Artur. No filme, que mistura as evidências históricas com elementos das lendas arturianas, Artur e seus Cavaleiros (provenientes de tribos conquistadas pelo Império Romano) enfrentam os saxões, que invadem a Grã-Bretanha quando o império em decadência está se retirando, deixando os habitantes da ilha a mercê dos invasores. O filme foca-se nas disputas políticas, a queda do império romano, o avanço dos bárbaros saxões, os conflitos religiosos entre cristãos e pagãos e a tentativa desesperada de Arthur em manter a Britânia unida, onde culmina e barbárie desenfreada, afinal tudo era resolvido na espada, com sangue e morte.

5.1.2 A Papisa Joana

Die Päpstin, 2009. Direção: Sönke Wortmann. Elenco: Iain Glen, Suzanne Bertish, John Goodman, Johanna Wokalek, David Wenham, Anatole Taubman e Jördis Triebel. Baseado no romance da autora americana Donna Woolfolk Cross, a Papisa Joana teria sido a única mulher a governar a Igreja durante dois ou três anos, segundo uma lenda que circulou na Europa por vários séculos. Muito já foi debatido e estudado, e existem outros filmes bem como documentários sobre este tema. Mas no final, é considerada pela maioria dos historiadores modernos e estudiosos religiosos como uma história fictícia.

FIGURA 7 – CARTAZ DE “A PAPISA JOANA”



5.1.3 A Última Legião

The Last Legion, 2007. Direção: Doug Lefler. Elenco: Colin Firth, Thomas Sangster, Sir Ben Kingsley, Aishwarya Rai, Peter Mullan, Kevin McKidd, John Hannah, Owen Teale, Rupert Friend, Nonso Anozie, Harry Van Gorkum, Robert Pugh, James Cosmo, Alexander Siddig, Murray McArthur, Iain Glen e Alexandra Thomas-Davies. Baseado em um romance italiano de 2003 escrito por Valerio Massimo Manfredi, é vagamente inspirado pelos acontecimentos da história europeia do século 5, nomeadamente o colapso do Império Romano do Ocidente sob o seu último imperador, Romulus Augustus. Este é acoplado com outros fatos e lendas da história da Grã-Bretanha e os elementos fantásticos da lenda de King Arthur para fornecer uma base para a lenda arturiana.

5.2 FILMES COM MENOR ACURACIDADE HISTÓRICA

5.2.1 Gladiador

Gladiator, 2000. Direção: Ridley Scott. Elenco: Russell Crowe, Joaquin Phoenix, Connie Nielsen, Oliver Reed, Richard Harris, Derek Jacobi, Djimon Hounsou, David Schofield, John Shrapnel, Tomas Arana, Ralf Möller, Spencer Treat Clark, David Hemmings, Tommy Flanagan e Sven-Ole Thorsen. O general romano Máximus Décimus Meridius é traído quando o ambicioso filho do imperador, Cômodo, mata seu pai e toma o trono. Reduzido a um escravo, Máximo ascende através das lutas de gladiadores para vingar a morte de sua família e do antigo Imperador. Este filme possui diversos erros históricos, o que devido às críticas de estudiosos levou seu diretor Ridley Scott a declarar, após o seu lançamento que havia criado “um mundo à parte”. Mas há muita grosseria, como o uso de armas de cerco em batalhas campais, florestas de um tipo único de árvore, coisa só possível a partir de 1500, raça de cachorro que não havia na época, os prédios romanos são brancos, já parecendo velhos quando na época certamente seriam mais novos, cores incorretas nos uniformes dos soldados, disputa de gladiadores sob classes erradas (havia uma ordem de disputa, determinada classe só poderia lutar contra outra e não havia misturas), etc. Mas os erros mais marcantes são: Mesmo no mais tirânico dos regimes imperiais romanos, nunca alguém na posição de Máximus, um general famoso, teria simplesmente sumido para ser exilado e escravizado. Seu banimento seria legalmente registrado – assim ele jamais poderia voltar à Roma, o que fez sob o domínio de Próximus; O imperador Marcus Aurélius jamais baniu os jogos gladiatoriais e ele não foi assassinado por seu filho; Por fim, Roma não foi fundada como uma república, mas como uma monarquia – assim, nunca Marcus Aurélius poderia sonhar, como ele diz no filme, em devolver a república a Roma.

FIGURA 8 – FILMAGENS DE “GLADIADOR”



5.2.2 Os Intocáveis

The Untouchables, 1987. Direção: Brian De Palma. Elenco: Kevin Costner, Sean Connery, Charles Martin Smith, Andy Garcia, Robert De Niro, Patricia Clarkson, Billy Drago, Richard Bradford, Jack Kehoe, Brad Sullivan e Clifton James. Na Chicago da época da Lei Seca, Al Capone corrompe, controla e corroí a cidade através da venda ilegal de bebidas alcoólicas. Eliot Ness é um agente federal que chega na cidade com a missão de acabar com as atividades ilegais. Pelo menos em cinco cenas deste filme encontramos erros históricos: a cena clímax, no tribunal, que coloca Capone e Ness frente a frente nunca ocorreu, os dois homens jamais ficaram cara a cara; Ness é retratado como um pai de família trabalhador e de elevada moral - na verdade o Eliot Ness da vida real teve casamentos fracassados, uma carreira irregular e rumores apontam para problemas com alcoolismo; Frank Nitti, o personagem que é jogado pelo telhado, não morreu desta forma - ele se suicidou na prisão, antes do seu julgamento; Os "intocáveis" do filme são Eliot Ness, Oscar Wallace, Jim Malone e George Stone - na vida real haviam pelo menos dez homens na equipe, nenhum deles com os nomes apontados no filme; A cena em que o advogado de Al Capone decide mudar seu veredicto é completamente sem sentido - a nenhum advogado é permitido este tipo de ação.

5.2.3 O Que é Isso, Companheiro?

O Que é Isso, Companheiro?, 1997. Direção: Bruno Barreto. Elenco: Pedro Cardoso, Fernanda Torres, Alan Arkin, Matheus Nachtergaele, Luiz Fernando Guimarães, Cláudia Abreu, Nélson Dantas, Caio Junqueira, Marco Ricca, Maurício Gonçalves, Selton Mello, Du Moscovis, Fernanda Montenegro, Lulu Santos, Othon Bastos, Alessandra Negrini, Fisher Stevens, Antônio Pedro, Milton Gonçalves, Oto de Lima, Caroline Kava e Charles Myara. Com roteiro parcialmente baseado no livro homônimo de Fernando Gabeira, escrito em 1979, o enredo conta a história verídica do sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick, em setembro de 1969, por integrantes dos grupos guerrilheiros de esquerda MR-8 e Ação Libertadora Nacional, que lutavam contra a ditadura militar instalada no país em 1964 e pretendiam trocar o embaixador por companheiros presos. Embora muito bem feito do ponto de vista cinematográfico, o filme deixa a desejar nos fatos reais do qual foi inspirado. Há tantos problemas de ordem histórica neste filme que um livro chegou a ser editado: Versões e Ficções – O Sequestro da História, com artigos de 17 historiadores e jornalistas demonstrando sua insatisfação, inclusive com entrevistas cedidas por participantes reais do sequestro.

Vejamos um trecho do livro:

Como é natural quando se leva para o cinema uma obra cuja matriz saiu da vida real, muitas situações foram simplificadas [...]. A versão cinematográfica de O que é isso, companheiro? radicalizou um traço da versão em livro, lembranças autobiográficas no qual Gabeira já vitaminava seus próprios feitos, dava um verniz charmoso a seu papel e ironizava a atuação de outros integrantes da operação. Com personagens que usam nomes e codinomes reais, textos explicando grandes acontecimentos, cenas em preto-e-branco como se fossem saídas do arquivo, o filme tenta, o tempo inteiro, dar a impressão de que é um relato de fatos reais, com uma ou outra alteração apenas para facilitar as opções dramáticas. Mas é menos cuidadoso do que parece. Nas cenas finais, informa que em 1979 o regime militar aprovou uma anistia destinada a “todos os presos políticos” — na verdade, um punhado deles ficou de fora na época, inclusive um dos participantes do seqüestro de Elbrick, Manoel Cyrillo de Oliveira Netto. Gabeira é apresentado como o sujeito que teve a ideia do sequestro, escreveu o manifesto divulgado pela TV e, por fim, foi o primeiro a fazer o balanço de que a luta armada era um sonho derrotado e sem remédio. Isso está longe de ser verdadeiro. Gabeira entrou e saiu da operação como um militante raso do MR-8, ou pouco mais do que isso. Já residia na casa onde o embaixador foi abrigado — ali deveria cuidar da imprensa da organização — e por essa razão ficou no local. Na hora dos trabalhos finais de limpeza, Gabeira ficou encarregado de recolher um paletó que pertencia a um graduado participante do sequestro. Descuidou da tarefa, os militares descobriram a peça de roupa, localizaram o alfaiate e acabaram fazendo uma prisão importante. Sem humanizar os personagens, o filme perde a chance de fazer um ajuste de contas honesto com algumas mitologias da esquerda — o máximo que mostra são traços de personalidade, como arrogância, autoritarismo. Mas havia muito a procurar. Há quem cultive a lenda de que a luta armada só foi iniciada depois que o regime bloqueou os espaços para a atuação política e a mobilização popular. É uma tese falsa, pois não havia carência de democracia apenas no governo. Havia grupos de esquerda treinando guerrilha antes da queda de João Goulart, e os assaltos a Banco destinados a financiar estruturas clandestinas são anteriores ao AI-5. Essa fatia da esquerda produzia seu beco sem saída, um impasse resolvido pela força bruta, com seu esmagamento. Desprezavam-se os valores democráticos. Não se apostava na ação política [...]. Não havia por que discutir quem venceu e quem perdeu numa escalada de violência que, iniciada em 1969, já estava encerrada em 1972, quando os últimos integrantes das organizações armadas sobreviviam numa delinquência sem perspectiva. Esse mundo clandestino desabou com militantes presos, foragidos, mortos, desaparecidos. Mas os derrotados não são necessariamente menos generosos, mais perversos nem mais mesquinhos do que os vitoriosos, e é uma pena que esse seja o retrato deixado pelo filme. “São máscaras chapadas, sem história, figuras feitas disponíveis para a circulação do preconceito”, explica Ismail Xavier (REIS FILHO; GASPARI; BENJAMIN, 2007, p. 54-60).

5.2.4 Coração Valente

Braveheart, 1995. Direção: Mel Gibson. Elenco: Mel Gibson, Patrick McGoohan, Catherine McCormack, Sophie Marceau, Angus Macfadyen, Brian Cox, Gerda Stevenson e Peter Hanly. O filme retrata a figura histórica de William Wallace, guerreiro, patriota escocês e herói medieval. O realizador tenta conferir ao protagonista uma faceta mais romântica e idealista e menos sanguinária. Mas há muito mais erros, citemos alguns: o romance de Wallace com a princesa Isabelle (ela tinha nove anos de idade quando Wallace foi executado e dois quando a trama do romance no filme se desenrola), o fato de não existir tomate na época (o tomate foi introduzido na Europa séculos após a morte dos personagens deste filme), Wallace e Robert The Bruce jamais se encontraram (e o apelido “Coração Valente” foi de Robert, não de Wallace). E um dos mais graves: a Primae noctis, que dá início a toda a trama do filme, jamais ocorreu em toda a história das Ilhas Britânicas.

FIGURA 9 – FILMAGENS DE “CORAÇÃO VALENTE”



5.2.5 Alexandria

Ágora, 2009. Direção: Alejandro Amenábar. Elenco: Rachel Weisz, Max Minghella, Oscar Isaac, Ashraf Barhom, Michael Lonsdale, Rupert Evans, Richard Durden, Sami Samir. Relata a história da filósofa Hipátia, que viveu em Alexandria, no Egito, entre os anos 355 e 415, época da dominação romana. É um belo filme que simula como seria a famosa Biblioteca de Alexandria, entre outros locais da antiguidade. Durante o relato, a história apresenta uma licença romântica, incluindo uma ligação entre Hipátia e um de seus escravos. Além da idade da protagonista (ela teria entre quarenta e sessenta anos quando morreu), sua morte também é muito diferente da retratada no filme. A matemática foi atacada por uma multidão, em março de 415, descarnada e destroçada.

5.2.6 Lutero

Luther, 2003. Direção: Eric Till. Elenco: Joseph Fiennes, Alfred Molina, Jonathan Firth, Claire Cox, Peter Ustinov, Bruno Ganz, Uwe Ochsenknecht, Mathieu Carrière e Benjamin Sadler. Cobre a vida do reformador alemão Martinho Lutero (1483–1546), desde que ele tornou-se um monge (1505) até a Confissão de Augsburgo (1530). Embora tenha ótima reconstituição de época, possui uma série de anacronismos e imprecisões históricas, como por exemplo, quando Lutero diz que o V Concílio de Latrão contrariaria o IV Concílio de Latrão, pois um teria definido que fora da Igreja Católica não há salvação, mas outro admitiu que poderia haver salvação, embora não fora de Cristo. Na vida real, estes concílios jamais se contradisseram e ambos afirmaram que "fora da Igreja Católica não há salvação". Em outra cena, o príncipe Frederico da Saxônia recebe a Rosa de Ouro como um suborno para entregar Lutero a Roma. Na vida real, ele foi premiado com o rosa antes de conhecer Lutero. No filme Lutero defende que os suicidas sejam enterrados em cemitérios, tendo ele próprio escavado a cova de uma criança suicida. Na vida real tal fato nunca ocorreu e Lutero contrariamente ao que relatou o filme, defendia que os suicidas não tivessem o direito ao enterro.

5.2.7 Amadeus

Amadeus, 1984. Direção: Milos Forman. Elenco: F. Murray Abraham, Tom Hulce, Elizabeth Berridge, Simon Callow, Roy Dotrice, Christine Ebersole, Jeffrey Jones, Charles Kay, Vincent Schiavelli, Barbara Bryne, Martin Cavani, Roderick Cook, Milan Demjanenko e Peter DiGesu. Baseado na peça homônima de Peter Shaffer, é livremente inspirado nas vidas dos compositores Wolfgang Amadeus Mozart e Antonio Salieri, que viveram em Viena, na Áustria, durante a segunda metade do século XVIII. O filme é uma obra-prima indiscutível, mas não é fiel à realidade. A história é fantasiosa e injusta com Antônio Salieri, um grande músico, retratado como invejoso. Embora ele e Mozart fossem concorrentes, não eram inimigos. Outra inverdade diz respeito à diferença de idade entre os dois: enquanto no filme Salieri já é velho e Mozart aparece adolescente, na realidade a diferença de idade entre eles era de seis anos. Salieri foi compositor da corte do imperador José II e diretor da orquestra do Teatro Municipal de Viena, compôs dezenas de óperas e até deu aulas para Beethoven, além de ter feito mais sucesso que Mozart. Se um deles tinha razão para ter inveja, era Mozart.

5.3 FILMES COM MAIOR ACURACIDADE HISTÓRICA

5.3.1 Glória Feita de Sangue

Paths of Glory, 1957. Direção: Stanley Kubrick. Elenco: Kirk Douglas, Ralph Meeker, Adolphe Menjou, George Macready, Wayne Morris, Richard Anderson, Timothy Carey, Bert Freed e Joseph Turkel. Baseado em romance de Humphrey Cobb. Durante a Primeira Grande Guerra, general francês ordena um ataque suicida contra os alemães, que resulta em tragédia. Para abafar sua participação no incidente, ele escolhe três soldados como bodes-expiatórios, julgando-os e condenando-os à morte. As trincheiras da Grande Guerra nas lentes de Stanley Kubrick. Inspirado em fatos reais, retrata os horrores desta guerra, principalmente aqueles que eram cometidos não no front, mas atrás de uma mesa onde soldados não passavam de números. O filme foi censurado na França por vários anos devido ao modo como retratou os oficiais franceses. Um dois maiores manifestos antibelicistas da história do cinema.

FIGURA 10 – FILMAGENS DE “GLÓRIA FEITA DE SANGUE”



5.3.2 Cruz de Ferro

Cross of Iron, 1977. Direção: Sam Peckinpah. Elenco: James Coburn, Maximilian Schell, James Mason, David Warner, Senta Berger, Klaus Löwitsch, Roger Fritz, Vadim Glowna, Fred Stillkrauth, Burkhardt Driest, Dieter Schidor, Michael Nowka e Veronique Vendell. Baseado no livro Das geduldige Fleisch, de Willi Heinrich, o filme focaliza a Segunda Guerra Mundial sob o ponto de vista dos combatentes alemães após a batalha de Stalingrado e desmistifica a ideia de crueldade insana atribuída a eles. Um filme frio como a guerra, sujo, lamacento, violento e sem esperanças.

5.3.3 Barry Lyndon

Barry Lyndon, 1975. Direção: Stanley Kubrick. Elenco: Ryan O'Neal, Marisa Berenson, Patrick Magee, Hardy Krüger, Steven Berkoff, Gay Hamilton, Marie Kean, Diana Körner e Murray Melvin. Com roteiro baseado em romance de William Makepeace Thackeray, o filme é basicamente um conto sobre a ascensão e o declínio social do personagem-título na Inglaterra do século XVIII, dividido claramente em duas partes. A reconstituição do período é maravilhosa. A maioria das vestimentas são originais da época, compradas de colecionadores e emprestadas de museus, bem como os quadros e outras peças de cena. A iluminação é natural, de luz de velas, com um efeito nunca visto antes no cinema, realizado por uma câmera especial encomendada por Kubrick com lentes de NASA. Possivelmente o melhor retrato do século XVIII em película, talvez um dos melhores filmes históricos já feitos.

FIGURA 11 – FILMAGENS DE “BARY LYNDON”



5.3.4 O Pianista

The Pianist, 2002. Direção: Roman Polanski. Elenco: Adrien Brody, Thomas Kretschmann, Emilia Fox, Michał Żebrowski, Ed Stoppard, Maureen Lipman, Frank Finlay, Jessica Kate Meyer, Julia Rayner, David Singer, Richard Ridings, Daniel Caltagirone e Valentine Pelka. Baseado na autobiografia de mesmo nome escrito pelo músico Polaco Władysław Szpilman. O filme mostra o surgimento do Gueto de Varsóvia, quando os alemães construíram muros para encerrar os judeus em algumas áreas, e acompanha a perseguição que levou à captura e envio da família de Szpilman para os campos de concentração. Wladyslaw é o único que consegue fugir e é obrigado a se refugiar em prédios abandonados espalhados pela cidade, até que o pesadelo da guerra acabe. Brilhante reconstituição desta época por um diretor que viveu tudo aquilo na pele e lá perdeu sua família. Polanski quando criança foi levado ao gueto e eventualmente fugiu, tendo vivido os anos restantes da guerra na fazenda de um polonês. Reencontrou seu pai após a guerra.

5.3.5 Giordano Bruno

Giordano Bruno, 1973. Direção: Giuliano Montaldo. Elenco: Gian Maria Volonté, Charlotte Rampling, Hans Christian Blech, Mathieu Carrière, Renato Scarpa, Giuseppe Maffioli, Massimo Foschi e Mark Burns. O filme narra o processo movido pela Inquisição Romana contra o filósofo italiano Giordano Bruno, no qual o mesmo recusou qualquer retratação, sendo condenado e queimado vivo no ano de 1600. O grande destaque do filme é a fotografia de Vittorio Storaro. Usando archotes para iluminar as principais cenas, ele consegue efeitos visuais impressionantes, sobretudo na caminhada de Bruno para a morte, pelas ruas de Roma. A reconstituição de época é fantástica, perfeccionista até nos detalhes, como a coleira que Giordano foi forçado a usar, que continha uma ponta de ferro que perfurou sua língua, para que não blasfemasse a caminho do cadafalso. O sombrio abismo entre o sagrado e o profano está perfeitamente delineado na música de Ennio Morricone: peças intensas de música coral religiosa, alternando para sugestivos temas atonais que destacam por sua vez o lado científico do protagonista, vivido em uma sociedade sempre crente no oculto e sempre alerta à caça às bruxas devido à Inquisição dominante.

FIGURA 12 – CARTAZ DE “GIORDANO BRUNO”



6 CONCLUSÃO

Um filme histórico precisa ser fiel à realidade? Pode um produtor de arte alterar o conhecimento histórico em prol de adicionar elementos mais atraentes aos olhos dos espectadores? Seria a História tão brutal ou tão sem graça que necessite de floreios para ser aceita pelo público? Muitos cineastas argumentam que filme não é documentário, mas sim uma interpretação ficcional da realidade. Só que essa interpretação — que é datada, localizada e utiliza nomes reais — deve ter, pelo menos, um compromisso com o espírito do que de fato ocorreu.

É difícil entender como em tantas produções multimilionárias onde se acerta em praticamente tudo, se erra no mais importante: a História. Confundem-se acontecimentos, unificam-se personagens, troca-se diálogos, avança-se ou retroage-se no tempo. Os filmes históricos tratam de fatos e personagens reais, de uma época sobre a qual geralmente há muita curiosidade e também muito desconhecimento. Há tanta coisa que passa incólume nas escolas, nos currículos atuais, então quando há o interesse em determinado fato histórico, minha opinião é que deve-se prezar pelo saber histórico, pela verdade do que ocorreu.

A história real detém uma beleza singular e minha tese é de que não há motivos para qualquer alteração dela, o que quando ocorre, constitui numa aberração travestida de arte.

REFERÊNCIAS

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TAVARES, Ingrid. A história do cinema. Revista Superinteressante, São Paulo, Ed. 219, nov. 2005.

A Grande História, Parte III (Estágio 6° sem.)

terça-feira, 2 de junho de 2015 0 comentários



INTRODUÇÃO

A Grande História é uma rede de direções infinitas interagindo em bilhões de anos, com eventos em todo o universo, por todo o sistema solar, em todo o nosso planeta, unindo tudo em conjunto harmonioso e em seguida, ligando estes acontecimentos à história humana no contexto do planeta, do sistema solar e do universo. Ou seja, a ideia é que o início do universo em todos os sentidos foi na verdade, muito simples: sem as estrelas, nada de vida, nada de planeta. Depois aos poucos, durante 13,5 bilhões de anos coisas novas surgiram. Essa ideia fornece uma estrutura, uma espécie de enredo. A Grande História se concentra numa série de situações onde algo crítico aconteceu, como veremos nos exemplos a seguir: o sal, o ouro, o cavalo, o frio, as armas, o sol e a água.

O SAL

O sal está ligado a toda a vida na terra. O sal tem uma história rica que com frequência se mistura à das civilizações. Por suas propriedades de conservação e preservação, o sal se transformou em símbolo metafórico de todas as religiões e definiu a evolução de alguns alimentos. Mas utilizemos três exemplos: o que o Canal de Erie (Estados Unidos), a Revolução Francesa e a muralha da China e tem em comum? O Canal de Erie foi criado para transportar este valioso item, e em sua rota foram desenvolvidas as cidades, em especial Nova York. Em 200 a.C. tinha início a construção da maior muralha defensiva de todos os tempos, a grande Muralha da China. Mas como pagar os trabalhadores? Sal! Na França, em 1789, o imposto do sal levou, em parte, ao início da Revolução Francesa. E existem outras dezenas de exemplos, como a marcha de Gandhi na Índia contra o imposto do sal ou no Brasil a chamada revolta do sal (Capitania de São Paulo e Minas de Ouro) em 1710. Algo simples como o sal, mas que põe em movimento as forças da história.

FIGURA 1 – O SAL


O OURO

Desde nosso longínquo passado, o homem foi condicionado a procurar e apreciar tudo que brilha. Foi assim quando nas savanas africanas saía em busca da água, que reluzia ao sol, ou quando ornamentava reis e rainhas. Mas a 2500 anos atrás, ele passou a ter seu uso mais importante até os dias de hoje: no comércio. E por que? Os povos antigos só conheciam sete metais: ouro, cobre, chumbo, estanho, prata, mercúrio e ferro. O ferro é duro demais, chumbo é macio demais, estanho é fraco e mercúrio é líquido. Cobre e prata são usados em moedas, mas eles mancham. O ouro não. Para os antigos, nada se comparava ao ouro. E o poder do dinheiro aliado a escassez do ouro levou a guerras e conquistas. E vale lembrar que o valor avaliado ao ouro é inteiramente imaginado. Se houvesse hoje, ouro distribuído como areia nas praias, ele teria o mesmo valor da areia. Mas o que faz este metal tão intrigante é que o ouro vai da astronomia à geologia e por fim até as sociedades humanas.

FIGURA 2 – O OURO


O CAVALO

O cavalo teve um papel chave em quase todos os empreendimentos do homem. Sem ele não haveria a transmissão das informações e especialmente da linguagem, caso da língua proto-hindú-europeia que originou o francês, italiano, hindu, grego, inglês, espanhol, alemão, quase metade do mundo. Quem domestica o cavalo vai mais longe e espalha melhor a sua cultura. Mesmo o poder equino tinha a sua limitação de distancias que poderia percorrer em um tempo razoável, determinando assim também o tamanho de território que os antigos impérios conseguiam dominar. O cavalo também revoluciona as vestimentas. Os antigos romanos precisam trocar as túnicas por calças nas batalhas. Os cavalos nos dão a força dos seus músculos e a vitória nas guerras. Por milhares de anos ele será os nossos motores. Ele nos dá energia, na medida em que não precisaremos mais carregar grandes cargas, pois este animal o fará por nós. Assim podemos concentrar forças em outras coisas, especialmente na inteligência.

FIGURA 3 – O CAVALO


O FRIO

O frio é uma das mais surpreendentes forças da natureza. Ele pode espalhar a morte, mas é a chave para a vida. Os desastres das invasões da Rússia pelos exércitos de Napoleão e Hitler se deram principalmente por causa do frio. A humanidade luta contra o frio desde o começo de nossa história. Nosso corpo não é preparado para extremos: se a temperatura cai, alguns órgãos param de funcionar para economizar calor para o cérebro. E nosso corpo todo colapsa pelo frio. O frio nos fez desenvolver as vestimentas, e descobrir o fogo. O frio também levou a divisão de raças, quando há 20.000 anos uma era do gelo castigou a humanidade. Forçado a usar roupas pesadas, que cobriam totalmente o corpo do sol, o ser humano passa a ficar sem a vitamina D, e precisa desenvolver roupas mais leves. O frio também muda os elementos de determinados metais, como o estanho. O frio se confunde com a criação das estrelas, e da própria terra. Um dia, as galáxias vão se dissipar no frio, e num universo que nasceu de uma explosão de calor, o frio reinará para sempre.

FIGURA 4 – OS EXÉRCITOS DE HITLER NA RUSSIA


AS ARMAS

Enquanto os animais tem órgãos especiais para caçar, atacar e se defender, como suas presas, garras, velocidade, força, o ser humano se revela umas das criaturas mais frágeis do planeta. Não há como ter investidas de sucesso com nossos pequenos dentes ou nossas pequenas unhas. Por isso o homem teve de criar armamentos para cumprir este fim. E tais armamentos se desenvolveram até o ponto que hoje o homem tem a capacidade de destruir até seu próprio planeta com as armas que criou. Mas embora frágil, o corpo humano é uma maravilha da biomecânica, especialmente os braços, concebido para estocar e liberar energia elástica, dando-nos o poder de mirar e atirar projéteis com uma precisão que nos destaca. O segredo sempre foi o tiro à distância. Tudo começou na lança, passou pelo arco-e-flecha, a espada, o mosquete, a espingarda, a metralhadora, a granada. E então, o controle-remoto. Outro fato interessante é que as armas são inerentes apenas aos seres humanos.

FIGURA 5 – AS ARMAS


O SOL

O sol foi o primeiro deus da humanidade. Um mestre da realidade e do tempo. A adoração ao sol é uma superstição que remonta ao início do homem na terra. Ele trazia o calor a um mundo frio, a luz a um mundo escuro. Então não é de se espantar que os primeiros humanos o adorassem tanto. E o homem criou estruturas de pedra alinhadas ao sol, em todas as culturas, em todos os tempos. O sol indica o tempo e forma os calendários, marca a passagem das estações. Nosso relógio biológico é controlado pelo sol. Tudo em nosso corpo é projetado para seguir o sol, regidos por uma pequena estrutura do cérebro chamada ritmo circadiano. Ele nos prepara para quando trabalhar, comer e dormir, mesmo estando longe do sol. E essa diferença entre o dia e a noite nos trouxe até às crenças religiosas, às diferenças entre o que é iluminado e o que é sombrio, Hórus e Seth, deus e o diabo. E o que observamos com isso é o nascimento da dualidade: se você venera a luz, deve temer a escuridão. O sol tem o poder de nos moldar.

FIGURA 6 – O SOL


A ÁGUA

A água é a substância mais comum na superfície da terra. E é também a mais destrutiva, com um poder inigualável de esmagar, esculpir e congelar. Ela compõe 70% da superfície do planeta e 60% de nossos corpos. Pelos rios, o comércio através de barcos desenvolveu as cidades costeiras, de forma muito mais barata do que a criação de estradas. E energia cinética das águas faz virar uma roda que aciona um eixo, que gira uma engrenagem e faz o nosso trabalho pesado. Ela cria energia, eletricidade através das represas. A água dos mares também traz as chuvas, pois através do sol levanta moléculas até o céu, que descem por causa da gravidade. A água impulsiona a história da humanidade com sua capacidade de movimento contínuo. Mas a água também pode trazer doenças ao transportar bactérias, por isso deve ser limpa. A água fornece o grande ambiente habitável para uma química rica. E nós somos o produto desta mesma química rica. Ela domina a história da humanidade, e você não pode viver sem o acesso a ela.

A Grande História, Parte II (Estágio 5° sem.)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014 0 comentários



A GRANDE HISTÓRIA

A Grande História tem eventos em todo o universo, por todo o sistema solar, em todo o nosso planeta, unindo tudo em conjunto harmonioso e em seguida, ligando estes acontecimentos à história humana no contexto do planeta, do sistema solar e do universo. Ou seja, a ideia é que o início do universo em todos os sentidos foi na verdade, muito simples: sem as estrelas, nada de vida, nada de planeta. Depois aos poucos, durante 13,7 bilhões de anos coisas novas surgiram.

Essa ideia fornece uma estrutura, uma espécie de enredo. A Grande História se concentra numa série de situações onde algo crítico aconteceu, como veremos a seguir podem ser até descritos como “golpes de sorte” que são chamamos de “limiares”. Esses limiares são divididos em 8, misteriosamente conectados, e são momentos em que o universo cruza uma linha e nunca mais pode voltar atrás, até chegar a nós.


O PRIMEIRO LIMIAR: O BIG BANG

O primeiro limiar foi o Big Bang: no princípio, havia apenas silêncio. O total e mais absoluto silêncio, até que numa fração de segundo toda a energia que um dia vai existir aparece num flash inconcebível, um trilhão de trilhões de pontos de luz. Tudo que conhecemos aparece neste momento, 13,7 bilhões de anos atrás: a força da gravidade, o eletromagnetismo, tudo. Se a gravidade fosse mais forte, tudo teria colapsado. Se fosse mais fraca, as estrelas não poderiam ter sido formadas. O Big Bang ocorreu na medida certa e colocou todo nossa história em movimento. No entanto, tudo ainda é muito quente, e é impossível formar átomos.

Assim, em 380 mil de anos após tudo esfriar o suficiente, passamos a ter a matéria como a conhecemos. Os primeiros átomos a aparecer foram o hidrogênio e hélio, os elementos mais básicos, que por terem ação gravitacional, serão nossos blocos de construção. Eles se aglutinam e a gravidade passa a ser a escultora do universo. Eles formam estruturas gigantescas, as galáxias, os aglomerados de galáxias e os superaglomerados de galáxias separadas por enormes vazios. Nuvens destes elementos começam a condensar e a rodar. A gravidade as comprime, esmaga, condensa e dentro delas a pressão faz a temperatura aumentar até chegar a 10 milhões de graus célsius a fusão nuclear acontece. Acontece o segundo limiar: as estrelas se acendem.


O BIG BANG 


O SEGUNDO LIMIAR: AS ESTRELAS SE ACENDEM

Não havia luz propriamente dita antes disso e a energia emanava de uma única fonte, que foi o Big Bang. A partir de então, passaram a existir pontos por todo o universo, com bastante densidade, energia e calor. A primeira geração de estrelas iluminam o universo. Porém, o seu combustível começa a escassear. Elas começam a queima e com a morte destas estrelas, acontece o terceiro limiar da Grande História: os elementos complexos.


O TERCEIRO LIMIAR: ELEMENTOS COMPLEXOS

Com a morte de cada estrela, forma-se uma fábrica de elementos dentro dos seus núcleos mortos. Estes são elementos simples que se fundem e formam átomos maiores e mais complexos. No terceiro limiar, pela primeira vez o hidrogênio e o hélio criam elementos completamente novos que tornarão o universo possível. Conforme as estrelas começam a ficar sem hidrogênio, passam a alcançar temperaturas cada vez mais altas e passam a converter o hélio em elementos mais complexos e todo este processo continua até chegar ao que conhecemos por tabela periódica. As estrelas usam a cinza dos conjuntos das reações nucleares como combustível para as reações seguintes. E convertem hidrogênio em hélio, carbono em oxigênio, silício em enxofre, magnésio em ferro.

Assim, a mais de 12 bilhões de anos, as estrelas criaram o elemento que no longo futuro viabilizaria tudo, desde a Idade do Ferro aos couraçados. Estas estrelas que morrem não tem energia suficiente para criar qualquer coisa mais pesada do que o ferro. Isto termina até explodirem como supernovas e ocorrerem as maiores explosões desde o Big Bang. O calor e a pressão intensa produzem elementos mais pesados do que o ferro. Da maior explosão de todas, a colisão entre as ruínas de duas supernovas conhecidas como “estrelas de nêutron” surge o ouro. E estes novos elementos seguem espaço adentro formando novas nuvens que se unem a novas estrelas, formando sua segunda geração. Cada vez que este processo se repete, mais elementos são criados. Alguns deles serão abundantes. Outros serão raros. Suas proporções terão efeitos profundos na história que está por vir. Se existe mais proporção de prata do que ouro no universo, significa que mais energia é necessária para a produção de ouro, assim é mais raro ocorrerem os eventos onde o ouro é criado. Sucessivas gerações destes processos através de bilhões de anos levaram à criação de nosso sol e nossa Terra.


O QUARTO LIMIAR: CRIAÇÃO DA TERRA

O quarto limiar foi a criação da Terra. Há 4,5 bilhões de anos atrás uma estrela antiga entra em colapso e explode, lançando uma enorme onda de choque em uma nuvem de gás e poeira bem próxima. Sua força faz com que a nuvem gire e sua gravidade a esmaga e comprime, esculpindo a nuvem e a aquecendo até 10.000 graus. Assim, a partir dos restos de uma estrela antiga uma nova explode gerando luz. Nosso sol ilumina oito novos planetas que se formam em torno dele. Nossa terra primitiva encontrava-se a uma distância crítica da estrela, onde a água líquida tem condições de existir. Se esta distância fosse um pouco mais próxima do sol, os locais que abrigam nossas futuras cidades queimariam e nossos oceanos ferveriam; se fosse mais longe, nosso futuro seria congelado. Esta localização de nosso planeta representa um dos muitos golpes de sorte que nos trouxe ao que existe hoje. O próximo consistiu em um desastre cósmico: um enorme objeto se chocou contra nosso planeta. Se a colisão fosse frontal, a Terra teria se despedaçado.

No entanto não foi, e os detritos da colisão formaram a nossa lua. A lua age como um contrapeso, estabelecendo a rotação da Terra, impedindo oscilações catastróficas no clima. Outro golpe de sorte: conforme a terra foi esfriando, de sua condição inicial de um corpo incandescente, os metais mais pesados afundam, formando um núcleo rotacional. Isso criou um campo magnético ao redor do planeta, que futuramente vai nos proteger da radiação mortal do sol e impedir nossa atmosfera de explodir. Só que isso desproveu a Terra de determinados materiais vitais como ferro, estanho, chumbo ou ouro. Então os planetas Júpiter e Saturno, a milhões de quilômetros de distância acabam mudando suas órbitas, dispersando bilhões de asteroides ricos em metais através do espaço e em direção à Terra. Isso “irrigou” o planeta, restabelecendo as nossas reservas. Em seguida a órbita de Júpiter se estabiliza e sua enorme gravidade passa a aspirar a maioria das rochas restantes, mantendo nosso planeta seguro. Sem Júpiter, a Terra estaria sob ataque constante de asteroides, tornando a vida inviável no planeta. Se um único destes golpes de sorte não tivesse ocorrido, nossa história teria sido bem diferente, talvez sequer tivesse iniciado. Não teríamos as estações do ano, estabilidade, minerais e metais, tudo que deu suporte à história humana.

Só que falta algo para que o planeta possa reunir condições a vida. Vindas das partes externas do cinturão de asteroides, o caótico sistema solar lança meteoroides e asteroides ricos em água pelo espaço e muitos deles atingem a Terra, formando oceanos. Das profundezas das águas destes oceanos formam-se reações químicas. Nas mais intensas, onde o calor emerge da fundição do núcleo do planeta e racha o fundo do mar, gás e lava superaquecidos e escapam das rachaduras. Uma reação química ocorre, um código chamado DNA com quatro produtos químicos é formado, criando-se a vida.


O QUINTO LIMIAR: CRIAÇÃO DA VIDA

O quinto limiar trata da criação da vida na terra. Há 3 bilhões de anos após as primeiras formas de vida surgirem na terra, as bactérias, há 542 milhões de anos atrás os mares explodem com plantas e animais complexos. Todos os tipos básicos do corpo que vão existir: cabeças, bocas, olhos. Barbatanas que evoluirão: membros, mandíbulas e dentes. Há 475 milhões de anos as plantas começam a se espalhar por toda terra, transformando o planeta em um mundo de florestas exuberantes com alimento abundante e abrigo. Para escapar da carnificina dos mares, algumas criaturas rastejam para a terra, tendo que voltar para os mares salgados para reproduzirem. Mas logo descobrem uma maneira de trazer um pouco do oceano com elas: o ovo. O ovo mantém a água salgada contida em um espaço pequeno para eles. Ele permitiu que os animais da água salgada mudassem definitivamente para a terra. E estes animais vão evoluir cada vez mais.

Eles enfrentam pelo menos cinco grandes extinções causadas por catástrofes naturais (queda de cometas, desastres geológicos), onde metade de toda a vida é apagada, limpando a terra e permitindo novas evoluções. Cada extinção reorganizou toda a vida, onde as criaturas se adaptaram às novas condições no planeta. A última, há 65 milhões anos extinguiu os dinossauros que reinavam a 165 milhões de anos, abrindo caminho para a era dos mamíferos, ou a nossa era. Há 50 milhões de anos surge a grama que atrai os mamíferas das florestas; os ancestrais dos cavalos crescem mais fortes e mais rápidos. Bovinos e caprinos evoluem. Nas savanas da África, há mais de 4 milhões de anos alguns primatas dão os primeiros passos para se tornarem humanos.

Eles deixam as árvores, mas a grama era muito alta. Como tinham de ver através dela, tiveram de andar nas patas traseiras. Isso também permitiu carregar bebês e ferramentas, caçar e soltar as mãos e polegares opositores. Assim, seu corpo evolui para outro que pode atirar lanças com precisão, facilitando a caça e permitindo matar pela carne. Isso nos possibilitou matar à distância, coisa que nenhum outro ser poderia fazer. Este homem primitivo usa descobre o fogo e usa ferramentas para tornar a carne mais fácil de digerir, mudando nossa biologia. A carne nos traz uma energia altamente concentrada e o cozimento faz uma pré-digestão. Isso significa que o intestino pode ficar menor, deixando energia livre para outros órgãos crescerem, como o cérebro. E com ele a inteligência. A vida na savana africana transforma nossos corpos e nossos cérebros. Todas as experiências e tecnologias podem ser reunidas, classificadas e passadas adiante, levando à aprendizagem coletiva.


O SEXTO LIMIAR: APRENDIZAGEM COLETIVA

O sexto limiar é a aprendizagem coletiva. Pela primeira vez a informação pode se acumular de geração para geração e isso nos deu as ferramentas e habilidades que precisávamos para dominar o planeta. E logo ele precisaria delas para se espelhar pelo mundo. A Era do Gelo diminuiu o nível do mar entre a África e a Arábia, criando uma porta de entrada para um mundo despovoado. Um pequeno grupo ingressa neste êxodo e aprende a costurar com linhas e agulhas, pois o frio os faz precisar de roupas dos pés à cabeça. Sua pele escura quase não os faz receber luz solar direta, o que é fundamental na criação da vitamina D.

Uma forma de lidar com isso era mudar para uma pele mais clara que não bloqueasse os raios do sol. Essa mudança começa a criar as divisões fundamentais que entendemos hoje, como a raça. Em vez de serem retardados pela Era do Gelo, os seres humanos se adaptaram e se espalharam. Um grupo alcança a Sibéria e atravessa uma ponte de terra até a América do Norte. Em 10.000 a.C. as geleiras começam a derreter, as marés sobem e as américas são separadas, bem como outras partes do mundo. A partir de então, por milhares de anos, será como se a humanidade vivesse em planetas diferentes. Mas essa separação acabará por revelar nossas semelhanças, uma vez que em qualquer lugar, os seres humanos fazem coisas muito semelhantes.

Criam impérios, constroem pirâmides, dominam novas tecnologias, atravessam novos limites em direção a um mundo moderno. Assim, pela primeira vez, não somos mais nômades. Paramos para viver em um só lugar e com isso chegamos à revolução agrícola.


PINTURAS DATADAS DE 10.000 a.C.


O SÉTIMO LIMIAR: A REVOLUÇÃO AGRÍCOLA

Considerada a mais importante, o sétimo limiar é a revolução agrícola. Começando a 10 mil anos, a mudança da caça e coleta de alimentos para agricultura é um triunfo da aprendizagem coletiva. A partir de agora nós assumimos o controle da evolução, cultivando gramas selvagens como nossos alimentos mais importantes: o milho, a cevada, o arroz. O mundo natural se torna o nosso laboratório. As feras selvagens não são apenas animais a serem abatidos para caça, mas devem ser domesticadas e criadas, transformadas em aliados vitais. Lobos selvagens viram cães, faisões viram galinhas, Javalis selvagens em porcos e os auroques ferozes nas vacas modernas.

E essa revolução nos dá nosso aliado animal mais poderoso: o cavalo, que teve um impacto enorme ao longo de nossa história. E na língua também. O cavalo foi domesticado pela primeira vez por tribos asiáticas que falavam uma língua antiga chamada “proto-hindú-européia”. Com essa nova forma radical de se locomover eles se espalharam, levando sua língua para longe que veio a se ramificar em centenas de línguas faladas por quase metade do mundo (Francês, Espanhol, Russo, etc.). A revolução agrícola depende também da química e do sal. Para sobreviver como agricultor, o alimento tem de durar o ano todo. E o sal tira a humidade, matando os micróbios e impedindo o alimento de apodrecer.

A preservação transforma a agricultura em uma revolução. Até este instante, os únicos trabalhos do ser humano envolviam caça ou coleta de alimento. Com a capacidade de armazenar comida e criar estoques para o futuro, a partir de então as pessoas poderiam dedicar sua energia para algo além da sobrevivência. É o início do primeiro mercado de trabalho da humanidade. Alguns se especializam como soldados, sacerdotes, metalúrgicos e, finalmente, governantes.

Com o plantio de sementes começamos a criar raízes e os vilarejos se tornam povoados, povoados se tornam cidades, cidades se tornam civilizações, iniciando uma era de governantes poderosos. Impérios são formados e para se manter um império há a necessidade de lealdade de milhares de pessoas, inclusive de locais distantes. Os governantes passam então a construírem grandes obras como as pirâmides, para demonstrarem seu poder.

RUÍNAS DO IMPÉRIO ROMANO 

E logo, com a junção de vários povos, através da troca de saberes desenvolvem-se inúmeras novas tecnologias e chega um momento em que guardar toda esta quantidade de informação no cérebro não é mais possível, e os seres humanos iniciam a escrita para lembrar das coisas. Isso permitiu passar as experiências para as gerações futuras. Tudo que chamamos civilização tem suas origens traçadas na revolução agrícola, que transformou o modo como vivemos.

Para ter e manter um império é necessário grande profusão de alimentos que por sua vez necessitam de boa condição climática. Assim, desenvolvem-se os impérios mais rapidamente nas regiões sul da Europa e norte da África, enquanto que na Ásia desenvolvem-se os povos conquistadores, que usam o cavalo e técnicas de guerra para sobrepujar às vezes, povos inteiros. Começa a existir um distanciamento entre os continentes americanos com o europeu e asiático. O continente americano não possui cavalos e a troca de informações entre os povos precisa ser feito a pé. O fato das relações entre os povos serem de norte a sul, sul a norte também atrapalha, além das montanhas que cercam a américa do norte no leste e oeste.

Na Europa e Ásia há uma contínua troca de experiências devido a rapidez dos cavalos entre dezenas de outros fatores. Uma extensa conexão que lembra as sinapses do cérebro e que desenvolve rapidamente todos estes povos. A pólvora descoberta na distante e fechada China em 850 d.C., por exemplo, se espalha por todo o continente e chega a toda Europa em apenas 300 anos. Em 1450, quando o alemão Gutemberg descobre um meio aprimorado de impressão mecânica, isso tornou o maior impulso ao aprendizado coletivo desde a invenção da escrita, 5000 anos antes e se distribui pelo continente.

PRENSA DE GUTEMBERG

Com tudo isso, restam apenas os oceanos a serem conquistados, o que é feito pelos europeus no século XV que atravessam o oceano Atlântico e chegam as américas, trazendo guerra, tecnologia militar, cavalos e doenças. Os europeus trazem micróbios e os americanos não tem imunidade alguma, o que em 100 anos leva 90% deles a morte.

Com a nova via, os mares, os exploradores europeus ganham o mundo, impulsionam a colonização, a cultura e o comércio entre os continentes em um intercâmbio global sem precedentes. Antes disso, apenas na Pangeia, quando todos os continentes estavam reunidos há 250 milhões de anos isso teria sido possível. O compartilhamento e a disseminação de conhecimentos revoluciona, mas ele tão rápido quanto um cavalo pode correr, ou um navio navegar e a níveis mundiais isso significa muito pouco ou quase nada. A volta ao mundo, por exemplo, leva um ano.

No entanto, esta globalização a partir de 1500 d.C. representa uma mudança de marcha na velocidade da aprendizagem coletiva. E o seu motor viria nos séculos seguintes, graças a uma máquina revolucionária, movida a metais trazidos por meteoros no início da Terra, fósseis de plantas antigas transformadas em carvão e as propriedades da água: o motor a vapor. Quando se aquece a água, cria-se a pressão a vapor que pode forçar um pistão a se mover para cima e para baixo em aparelhos que vão conduzir máquinas de fiação que irão criar tecidos muito mais rápido. Usando este procedimento numa plataforma com rodas, aliadas a trilhos de ferro, temos um meio de locomoção grande, rápido e resistente. Tudo isso é um produto do uso desta propriedade extraordinária da água aquecida. O motor a vapor leva ao motor à gasolina. E temos a revolução moderna.


O OITAVO LIMIAR: A REVOLUÇÃO MODERNA

O oitavo limiar foi a revolução moderna. Desde o início dos tempos, nosso meio do uso da força veio dos músculos humanos ou dos animais, seguindo-se a água corrente. Agora, os motores a vapor e a gasolina nos tornam muito mais produtivos. A partir de 1900, a potência dos motores a vapor pelo mundo equivaliam a força de 5 bilhões de homens. A revolução moderna acelera tudo, desde o que produzimos, o que cultivamos, como viajamos e nos comunicamos, elevando o homem a um status único na história do planeta. É uma era diferente de qualquer outra que existiu. Mas a energia não é a única chave para abrir este portal: a outra é a informação.

Durante toda a história antiga estávamos amarrados a nossa voz, que só podia viajar o tanto quanto uma onda sonora podia levar, ou seja, 183 metros. Mas agora nossas ideias podem andar na velocidade das ondas do rádio e isso é possível devido a força eletromagnética nascida no Big Bang. Hoje temos cerca de 7 bilhões de celulares no mundo, um para cada pessoa na terra. Estamos todos ligados a uma rede global que transmite a informação à velocidade da luz. Durante a era das máquinas a vapor, foram necessários 150 anos para o conhecimento coletivo do homem dobrar. Hoje são necessários dois anos. Em 2020 precisaremos de 72 horas.

Pela primeira vez em 4 bilhões de anos uma única espécie se tornou tão poderosa que domina a biosfera. O nosso tempo é um período fantástico e interessante na história, e estamos vivendo ele agora mesmo.

MOTOR A VAPOR


REFERÊNCIAS

A GRANDE História. Direção de Gabriel Rotello. EUA: A&E Television Networks, 2013.

BROWN, Cynthia Stokes. A grande história: do Big Bang aos dias de hoje. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

CHRISTIAN, David. Maps of time: an Introduction to Big History. Berkeley: University of California Press, 2005.

________. The history of our world in 18 minutes. Palestra proferida na TED - Technology, Entertainment, Design, Long Beach, Estados Unidos, mar. 2011.

REICHERT, Emannuel H. Começando a história pelo início: possibilidades e desafios da grande história. Revista Semina, Londrina, v. 11, n. 01, p. 1-8, 22 mai. 2012.

O Golpe Militar de 1964

quarta-feira, 17 de setembro de 2014 0 comentários

 
Este é um resumo do trabalho de Prática de minha equipe do curso Licenciatura em História, do Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI.
 
O seu tema é situado nas esferas de estudos sobre “História do Brasil Republicano” e o seu título é: O GOLPE MILITAR DE 1964.
 
Equipe: Valdemar, Viviane, Paulo e Idalício.
 
Boa leitura!


 

Diferenças Econômicas, Demográficas e Culturais entre o Brasil de 1964 e o de 2014

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Diferenças Econômicas, Demográficas e Culturais entre o Brasil de 1964 e o de 2014
 
 
Comparação entre as principais diferenças econômicas, demográficas e culturais do Brasil de 1964 e o Brasil de hoje:
 

O processo político que levou ao golpe de 64

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O processo político que levou ao golpe de 64

O episódio é um desdobramento de um movimento que vinha desde a queda de Getúlio Vargas em 1945, que levou depois ao inconformismo com o seu retorno em 1950 se desdobrando nos acontecimentos que conduziram ao seu suicídio em 1954. Na presidência de Juscelino Kubitschek (1956-1961) houve frequentes tentativas de sublevação e havia um forte movimento de oficiais do Exército na Escola Superior de Guerra, pró-americanos, anticomunistas. Havia duas correntes ideológicas no Brasil, sendo uma de esquerda e outra de direita. Aquelas correntes tinham movimentos populares de ambas facções, acredita-se financiados com capital externo. Além da polarização, existia também um forte sentimento antigetulista, motivador do movimento militar que viria a seguir.

Guerra Fria

Não se pode compreender a gênese do movimento político-militar de 1964 sem inseri-lo no contexto da Guerra Fria. Neste período, a Guerra Fria tinha se tornado aguda, sobretudo nas Américas. A tensão estava concentrada na América Latina, em um momento em que a região vira um pomo de discórdia com o triunfo da Revolução Cubana. A partir de 1959 outros movimentos procuram se inspirar na Revolução Cubana – Che Guevara falava de uma, duas mil Sierra Maestra na América Latina. Começa a guerrilha na Venezuela apoiada pelos cubanos, na Colômbia e em vários outros lugares. Esse movimento chama a atenção dos Estados Unidos pela primeira vez, porque a partir da 2° Guerra, os EUA tinham desviado o foco, primeiro para a Europa e depois para a Ásia. Neste momento, os EUA descobrem a importância da América Latina. Quando John Kennedy é eleito, é criado o programa Aliança para o Progresso, que era um plano para promover o desenvolvimento da América Latina, mas não como os países latino-americanos queriam. Eram esperados empréstimos, capitais para a industrialização entre outras coisas, mas a Aliança para o Progresso tinha mais uma abordagem social, educacional, o que trouxe decepção em determinados círculos.

Renúncia de Jânio Quadros

No dia de 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros renunciou à Presidência da República. A Constituição não deixava dúvidas quanto à sua sucessão: assumiria a presidência o então vice-presidente João Goulart, e houve suposições de um autogolpe fracassado. A legislação eleitoral da época permitia que se votasse no presidente de uma chapa e no vice-presidente de outra. Goulart era visto como sucessor político de Getúlio Vargas e era, também, cunhado do governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, que defendia a realização de reformas de base no Brasil, incluindo a reforma agrária e a reforma urbana. As reformas de base desagradavam os setores conservadores, a classe média, e grandes empresários. E através de seu poderio político financeiro e de lobby no Congresso Nacional acabaram por se movimentar no sentido de impedir a posse de Jango, que neste momento estava ausente do país, em visita à China comunista. Por influência de grupos mais moderados, houve um acordo político estabelecendo o regime parlamentarista, o que significaria que Goulart seria chefe de estado, mas não chefe de governo.

Goulart assume em 7 de setembro de 1961 com poderes reduzidos. Em 1962, é convocado um plebiscito para escolher qual a forma de governo o Brasil adotaria: ou retornava ao presidencialismo ou permanecia no parlamentarismo. O povo optou maciçamente pelo presidencialismo. Jango assumiu a chefia de um país polarizado, constantemente fustigado pela esquerda, que queria reformas imediatas, e pela direita, que temia qualquer avanço social. Goulart pôs em prática o Plano Trienal, baseado em reformas de base. O Congresso recusou-se a cooperar com o projeto.

A Revolta dos Marinheiros

Foi um motim dos marinheiros da Marinha do Brasil ocorrido em 25 de março de 1964. Foi realizada uma assembleia com mais de dois mil marinheiros de baixa patente, realizada no prédio do Sindicato dos Metalúrgicos, no Rio de Janeiro, exigindo melhores condições para os militares e também pediam apoio às reformas políticas de base propostas pelo presidente João Goulart. A assembleia foi chefiada por José Anselmo dos Santos, mais conhecido como Cabo Anselmo. O então ministro da Marinha, Sílvio Mota, ordenou a prisão dos líderes do movimento, enviando um destacamento dos fuzileiros navais, comandados pelo contra-almirante Cândido Aragão. Os fuzileiros, porém, juntaram-se ao movimento. Jango expediu ordens proibindo qualquer invasão da assembleia dos marinheiros e exonerou o ministro Mota. No dia seguinte, 26 de março, o ministro do trabalho Amauri Silva negociou um acordo, e os marinheiros concordaram em deixar o prédio pacificamente. Logo em seguida, os líderes do movimento foram presos por militares, sob a acusação de motim. Horas depois, porém, o presidente anistiou os amotinados, criando um forte constrangimento entre os militares diante da imprensa e da sociedade. Goulart compareceu a uma reunião de sargentos, no Automóvel Clube, discursando em prol das reformas pretendidas pelo governo e invocando o apoio das Forças Armadas.

Leonel Brizola

Estatizações feitas por Leonel Brizola, cunhado de João Goulart, em companhias telefônica e de energia do Rio Grande do Sul, ambas pertencentes a grupos dos EUA, criaram um clima tenso entre Brasil e Estados Unidos. Brizola denunciou um acordo de indenização fraudulenta feito com as companhias dos EUA, antigas proprietárias das estatais recém criadas do Rio Grande do Sul. O ministério caiu e o acordo foi suspenso, desagradando aos Estados Unidos.
 
Paralelamente, havia o movimento dos sargentos ideologicamente ligados ao governador Brizola. Estes pleiteavam o direito de serem eleitos, já que suas posses haviam sido impedidas pelo Supremo Tribunal Federal. Enquanto o movimento estudantil, de orientação esquerdista, realizava protestos nas ruas, Brizola criou o movimento chamado de Grupos dos Onze, que consistia na organização popular em grupos de onze pessoas, para fiscalizar parlamentares e militares (já prevendo tentativas de golpes) e pressionar o governo e o congresso pelas reformas de base. Os políticos do PSD, mais conservadores, temendo uma radicalização à esquerda deixam de apoiar o governo. A UDN e o PSD temiam pelo crescimento do PTB, já que Brizola, aparentemente era o favorito para as eleições presidenciais que aconteceriam em 1965. Criou-se o medo de que Goulart levasse o país a um golpe de estado, com a implantação de um regime político nos moldes de Cuba e China. Era o “perigo comunista”, que serviria depois como justificativa para o golpe.

Comício da Central do Brasil

Em 13 de março de 1964, Jango organiza o Comício da Central, chave para dar início ao golpe. Goulart anunciavam as reformas de base, incluindo um plebiscito pela convocação de nova constituinte, a reforma agrária e a nacionalização das refinarias particulares de petróleo. Jango também criticava o sentimento anticomunista e a utilização dos meios religiosos como instrumentos de oposição ao governo. Os políticos da UDN e do PSD acreditavam que Brizola pudesse vencer as eleições presidenciais e que o povo apoiaria o seu projeto. Assim, a aliança UDN-Militares-Estados Unidos iniciou sua mobilização definitiva em direção ao golpe.
 
Em resposta ao comício, com a articulação do IPES e outros órgãos, foram organizadas as Marcha da Família com Deus pela Liberdade, reunindo centenas de milhares de pessoas e amplamente cobertas pela mídia, provocando um alastramento de sentimentos anticomunistas pela sociedade.
 
Jango no Automóvel Clube - Rio de Janeiro
 

 
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